quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Cuba gourmet

Publicidade na Fôulha de hoje:

HAHAHAHAHA! Sensacional! Pra quem é nascida-criada no século XX, mesmo que lá não tenha se estagnado, é o tipo de coisa que faz com você leia duas vezes, sorria e constate o sinal dos tempos! Quando eu nasci, a versão oficial moral e cívica explicava que, para a Ilha, só ia quem sequestrava avião e queria lapidar suas habilidades guerrilheiras. Coisa de comunista-desgraçado, que queria o fim da família, da religião, da maria-mole rosa e do programa Amaral Netto, o repórter... Gente de bem não colocaria seus pés ordeiros naquelas corruptas areias, né?

Hoje, a publicitários vendem a “autêntica Cuba” como vendem qualquer outro lugar que faça a classe média ir ao paraíso (ao menos, numa imaginação bem simplinha de tudo). Os pedidos de pena de morte ou prisão perpétua a comunista-desgraçado-sem-religião continuam dando as caras, desavergonhadamente. Mas se der pra usar uma “praia perfeita”, com imagens-gourmet*, que mal tem, né? Por que não garantir selfies no revolucionário litoral cubano, se há tempos dá pra se refestelar em praias de países muçulmanos? – mesmo que sejam aqueles que arrepiam sensibilidades cristãs.

Bom, o sonho mesmo era ir pra Grécia, né, e aproveit... Aaahn... esquece.


* Por favor, ajudem o Trator a se atualizar: gourmet, virou um estilo de vida, é isso mesmo? Já dá pra usar em qualquer situação?




terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mas é de esquerda!

A sensação de assaz e deveras começa a dar lugar a uma desesperança. Principalmente quando reflexões são compartilhadas e discutidas como necessárias, engraçadas e corretas pelo simples fato de que quem as elaborou é desquerda.

Assim, a enxurrada de reações equivocadas e opiniões precipitadas recebe, depois de um tempo, toda-uma ladainha de seguidores a apontar o manual de instruções para se ler a bobagem. Magina, não é bobagem, porque o autor é todo trabalhado na militância... Aaaaah, bom! Se tá na militância, tudo o que escreve é válido, é material para se filosofar a respeito.

E não é só isso! Levando duas dessas opiniões tolas, saídas no calor de discussões nas quais o importante é acusar reacionarismos antes de todo mundo, você ainda ganha textos delicadamente trabalhados, dessa vez, pensados mesmo, expressando opiniões toscas acerca de arte, cinema, literatura, reflexões machistas disfarçadinhas de odes “à fêmea” (alguém traz um balde?) – mas odes engajadas, tá?

Porque parece que engajamento também tá servindo pra justificar burrice, falta de talento e de referências. Mas ele é de esquerda! Ela está envolvida com movimentos sociais. Joia! No meu mundo ideal, as políticas públicas são todas de esquerda. A participação em movimentos sociais, condição básica para uma vida decente. Só que isso não desculpa ideia ruim!

E assim como há leitor da Veja e demais rasteirices, há leitor de site dito engajado-comprometido-militante tão ruim quanto – o site e o leitor! Textos preocupados em provar o próprio ponto de vista, a qualquer preço, incluindo a desinformação. Mas como é desquerda, tá valendo, porque o importante é denunciar, é berrar a militância antes de todo mundo, é construir o protagonismo em cima do próprio berro, não de ideias. 

Sério, não tô conseguindo ver muita diferença entre essas atitudes. O que é beeeem diferente de dizer que não há mais esquerda/direita. Nada disso. O que eu tô querendo dizer é que a idiotice e a arrogância fazem estragos por todo o espectro de ideias...


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Por que você precisa estudar o próprio idioma, criatura?



Para não “elaborar” frases-lixo como estas abaixo:

Isso tudo saiu do site BBB BBC Brasil...


Sério moçada. Dar a entender não basta; amontoar expressões sem pé nem cabeça para que não ultrapassem certo número de caracteres não é elaborar um texto! O fato de você compreender o que escreveu não garante que os outros tenham compreendido e, muito menos, que o texto esteja correto. Por fim, não é por que se escreve em site de notícias que se domina o idioma. Não é. Bom, neste caso, vivente quebra mar-e-mar um galho, né? Em termos de forma e de conteúdo igualmente.

Valei-me, professor Pasquale!


domingo, 18 de janeiro de 2015

Intensificando o fuzilamento...

Tá, o assunto não tem graça. Mas a maneira de apresentá-lo é ridícula:


Porque executado deve ter parecido muito simplório; e fuzilado talvez não desse conta da grandiosidade que o jornal quis estampar em seu site, caçando possíveis leitores ávidos por pena de morte e descrições macabras, né? Então – deve ter pensado o responsável pelo texto – bora carcá a mão aí na coisa: executado por fuzilamento. Agora sim!

Me fez pensar num filme (ótimo) de 1976, chamado Assassinato por morte (Murder by Death, dir.: Robert Moore, roteiro de Neil Simon). Com atores fantásticos, é absurdo e engraçadíssimo, passando por todos os clichês de filmes policiais com um talento enorme – coisa que tem escasseado na “arte de dar notícias”...


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Muita vergonha alheia...

... de quem se identifica como progressista e defende Dieudonné M'Bala M'Bala. Li algumas reflexões de gente se rasgando porque o dito humorista sofreria perseguição por ser negro e blablablá, sem sequer saber de quem se trata, apenas por ter visto uma foto, ter sabido da proibição de um espetáculo e ter feito a comparação, a toque de caixa, com o episódio do Charlie Hebdo.

Não sou a favor da proibição de shows, publicações e o escambau. Nem dos do citado sujeito. Mas antes de defender um militante de extrema-direita, cabo eleitoral de Jean-Marie Le Pen, aconselho à moçada da esquerda hiperativa que se informe melhor, que busque saber sobre as opções do sujeito a partir dos anos 2000.

Eu também vejo a politica do Estado de Israel como qualquer coisa de criminosa, mas me dá vontade de vomitar quando ouço ou leio sobre as ideias e as piadas antissemitas, entre outras, vulgares na última, de Dieudonné. Todas à altura das reflexões de Le Pen, que é padrinho da filha mais nova do humorista (batizada aliás, por um clérigo católico dos mais conservadores).

Então, antes de pagar mico se revoltando contra uma possível perseguição a um humorista negro e muçulmano equilibrado (sic e oi? Quem te disse isso, pessoa?), melhor é baixar a ficha do sujeito, que tem condenações há mais de uma década não por um humor "politicamente incorreto", mas por incitação ao ódio racial e à violência. E pra se destacar pelo que ele chama de polêmica, atira pra tudo quanto é lado, posando de defensor da livre opinião, desde que seja a dele.

Isso não quer dizer que...

Fico assaz e deveras quando, na ânsia de defender oprimidos históricos, vão-se amarrando uns nós, cada vez mais fortes, uns sobre os outros, impedindo ideias. São aquelas verdades absolutas, berradas e jogadas na cara de quem não concorda. É aquele gesto que torce palavras, aquelas associações fáceis, disfarçadas de “denúncia”, que resvalam rapidinho para um denuncismo idiotizante (e autoritário).

Muitos defensores da prática acabam por repetir o que mais condenam, apenas se utilizando de outros exemplos; a prática permanece a mesma – afinal, filiações políticas não garantem, a priori, ideias e práticas inteligentes, certo?

Sendo assim, o Trator Didático – já em idade canônica e com prática em sala de aula iniciada no século passado – gostaria de relembrar alguns pontos:

☛ Discordar de uma mulher não significa, automaticamente, misoginia; 
☛ Discordar de uma pessoa negra não significa racismo;
☛ Discordar de uma pessoa homossexual não significa homofobia;
☛ Discordar de alguém que crê não significa intolerância religiosa;
☛ Discordar de alguém com deficiência física não significa preconceito. 

E tudo isso não quer dizer ter de aceitar discurso machista e caquético como direito à opinião ou lei da natureza; não quer dizer silenciar e desautorizar as pessoas, a priori, por conta de raça, orientação sexual, escolhas religiosas, características físicas. Isso sim é preconceito, desrespeito, incitação à violência em tantos casos. 

Discorda-se das ideias, uma vez que as pessoas as apresentam. Isso pressupõe ouvir, pressupõe diálogo, debate. 

Mas é mais fácil já definir campos antes mesmo que a prosa se entabule, não é mesmo? E aí, há criaturas que delimitam o mundo a um quintalzinho, separando as pessoas pelo que acredita serem signos indicadores de referenciais, amalgamando o que não tem nada a ver e impondo essa mixórdia como discurso esclarecido e questionador – comportamento que ocorre igualzinho, dentro de espectros políticos opostos. As associações fáceis, o comportamento vinagre e a birra infantiloide são os mesmos, afinal, há criaturas que não conseguem evoluir de estágios mais básicos do pensamento.

O estrago nisso é que passam defender o indefensável, a associar o que é totalmente distinto e a procurar quem não compartilha dessas “determinações”, passa a ver “desvios” nas escolhas, a sentir ameaças em palavras e também em silêncios. Na busca de protagonismos e de reconhecimento, detonam o que não compreendem (acreditando tudo saber), passam por cima da diferença que tanto propalam, aceitam atitudes-lixo que associam a ideais grandiosos ou lutas arrojadas, mas que não passam de mitologias precárias, realimentadas por debate que mal consegue preencher os próprios limites...

Aí, a solução, é ganhar espaço (qual mesmo?) no berro e no sensacionalismo, acreditando que servem quando usados para uma “uma boa causa”. A causa própria, claro, que enxergam como roteiro para a vida da humanidade inteira. Nos últimos dias, isso tem sido desesperador: quem partir para a análise (ou apenas uma reflexão) mais aprofundada, que vise contextos históricos, por exemplo, é acusado de apologia ao terrorismo; quem discordar de práticas autoritárias que querem dominar a voz de determinados grupos e calar outros pela violência é denunciado como extrema-direita, alienado... blablablá. O discurso mais alucinado tenta defender pessoas fazendo a apologia a coisas que essas mesmas pessoas detestam, e do que tentam se afastar, pedindo que não se façam amálgamas. Quédizê, na ânsia de encontrar oprimidos, esses “combatentes da liberdade” (via palavrório)  acabam fazendo as mesmas associações que os reacionários mais asquerosos. Idiotia por todos os lados!

Oscar, meus sais! De bário...

Indicação urgente para o fim de semana: o documentário The Queen and I (2009), da diretora  Nahid Persson Sarvestani – são entrevistas e momentos diversos entre a diretora, iraniana, de uma família militante comunista, e a ex-imperatriz da Pérsia, Farah Pahlavi, viúva do xá. Sensacional para perceber como não dá para aplainar a vida, as ideias e os contextos na base do rolo compressor. Cérebros binários entram em curto circuito na primeira meia hora do documentário (certos de que se trata de uma defesa da monarquia iraniana, hehehe...).

(não achei o trailer legendado, mas há versões com boas legendas em português)









quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Jihadistas em Floripa?!



Não. Não houve uma manifestação deles na capital catarinense, mas passando os olhos pelo site da RBS, foi a impressão que deu. A Frente de Luta pelo Transporte Público organizou um ato contra o aumento das passagens de ônibus – aquele que o prefeito garantiu que não haveria, que era “compromisso da gestão” e blablablá. 

Na matéria do site, imagens de fogo – mesmo que numa catraca simbólica –, Tropa de Choque da PM e o Tático, que, explica-se “aguardavam os manifestantes, mas não houve confronto”, segundo o jornal. Quase escuto um ahhhhhhh decepcionado ao fundo. Porque se tornou algo natural que Tropa de Choque esteja presente em manifestações da população – principalmente as que contestam determinações do executivo para favorecer empresários. Dá a impressão que “o Choque” é o primeiro canal de negociação entre movimentos sociais e otôridades eleitas.

Agora, ruinzão mesmo é ver como a imprensa desqualifica movimentos sociais, quer pela seleção de imagens, quer pelas expressões utilizadas para definir as ações. O que no meu tempo se chamava palavra de ordem passou agora a ser grito de guerra na imprensa local. Não é uma questão de preciosismo, de “politicamente correto” (raio de expressão que é um balaio de gato!) – é a necessidade de perceber como os movimentos sociais importantes são definidos, que palavras são utilizadas para criar uma opinião sobre eles. Não é tampouco a tal da mensagem subliminar, pois a coisa se faz na cara dura mesmo.

Assim, mesmo quem acredite ser um abuso o aumento nos preços do transporte pode acabar pensando duas vezes antes de apoiar o movimento. O que a imprensa os portas-vozes do poder fazem é construir, aos poucos, um suspense, é alimentar um receio latente de conflito, choque, violência. Melhor é acompanhar qualquer manifestação de casa, xingar o prefeito na frente da televisão e se conformar, afinal “são todos iguais, sempre foi assim, não tem o que fazer mesmo”.

O poder público que administra em causa própria agradece. 



Frente de Luta pelo Transporte Público   Página no fêici 

Atualização: falando em desqualificação, mais uma aula de como fazê-la aqui.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Waldo “X-Picanha” (1958-2015)





“Se aproveitar de uma tragédia pra se sentir especial”



Trecho da entrevista de Arnaldo Branco ao Livre Opinião.

Em relação à repercussão do caso, está havendo pessoas que apontam  a conduta do Charlie Hebdo como machista, homofóbica e racista em suas críticas, outros de que o jornal satírico precisa ser politicamente incorreto. Qual é a sua posição sobre o assunto?
Uma premissa falsa usada por oportunistas. A maior vítima do jornal era a extrema direita que persegue muçulmanos, negros, homossexuais – agora uns desavisados que nunca tinham ouvido falar no Charlie Hebdo discorrem como se fossem especialistas sobre o conteúdo de uma publicação de mais de quarenta anos. Aquele site Brasil 247 tentou imputar ao jornal um cartum racista que na verdade foi publicado em um tabloide fascista, e mesmo o material que está saindo por aí – que realmente foi publicado no Charlie – só mostram cartunistas zoando os fundamentalistas e desenhando  Maomé (desrespeitosamente, é verdade, mas no mesmo nível de outros cartuns e esquetes que já vi por aí brincando com outros profetas/mártires), justamente porque grupos extremistas afirmaram que atacariam quem fizesse isso. Aquilo não era um desrespeito puro simples – era também um ato de desafio contra a brutalidade.
Eu tenho discos de heavy metal lá em casa com capas muito mais desabonadoras sobre Jesus Cristo. E boa parte das piadas eram até bobas, sobre motes engraçadinhos, tipo sobre as virgens que os terroristas suicidas esperam encontrar no céu. Que porcaria de causa fraca é essa que precisa vingar um cartum?
“Os cartuns são racistas, retratam os islâmicos como terroristas”. Sim – os que são efetivamente terroristas.Trazendo para o nosso contexto: quando você faz um cartum com um traficante de AR-15 e chinelo, não está chamando todos os favelados de bandidos – você está retratando uma minoria (a Rocinha, por exemplo, tem 200 mil habitantes e é controlada por um bando de 100 caras armados) que efetivamente tem grande efeito na vida da comunidade. Todos conhecem as circunstâncias que levam um sujeito ao crime organizado, mas a prática não é menos odiosa – nenhuma miséria justifica a predisposição para o assassinato, senão muito mais gente estaria formando com os traficantes. Digo isso friamente, sem achar que a pena de morte ou redução da maioridade penal seja a solução pra nada – mas também não vou me compadecer da situação de alguém que acha matar um recurso válido. Quando um bandido morre em uma ação da polícia não sinto pena, mas também não me sinto vingado. Pelo mesmo motivo não senti nenhuma emoção quando a polícia francesa cercou os autores do atentado – nenhum desfecho iria trazer o Wolinski de volta, e quem quer que tome esse caminho de violência na vida entende o próprio assassinato como um revés possível do ofício. Condenar um homem-bomba à pena de morte me parece o cúmulo da inutilidade.
Outra coisa: esses caras do #jenesuispascharlie acham que só eles enxergam as implicações e desdobramentos do atentado, se acham o último farol da humanidade, ficam nas redes sociais exibindo sua pretensa sagacidade, dizendo coisas tipo “será que só eu percebo que o Sarkozy é um hipócrita quando fala em liberdade de expressão?” Não, fera, tem a maior galera que se liga nisso, mas nem todo mundo tem a manha de se aproveitar de uma tragédia pra se sentir especial. O que esses relativizadores estão fazendo é contestar luto em velório.
E pior é esse povo que fica repetindo “não teve toda essa comoção com o massacre tal”, como se fosse um campeonato de tragédia. Geralmente você vai na timeline desse pessoal e tem mais foto de almoço do que solidariedade com os oprimidos.


Ruben Esmanhotto (1954-2015)




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A hora do lanche

Eu não sou criatura saudosista, do tipo no-meu-tempo-tudo-era-lindo-e-melhor. Até porque não era. Mas lembranças, ninguém consegue evitar, né? Por exemplo, quando vejo isso:

Uma das maiores neuras atuais diz respeito a o que comer (como comer, onde comer, por que comer) na cada vez mais elaborada “hora do lanche”. Céus! O que as crianças comerão? Se multiplicam textos e mais textos com tabelas nutricionais, sete estações da via crucis que os pais devem percorrer para garantir que a prole roa brócolis (e seja fotografada no ato) e como sentir culpa (muita culpa) por ter permitido uma bala à descendência. O lanche é agora tema de questionamentos existenciais dignos de Nietzsche.

No século XX, coisa que sempre terminava em desastre, pra mim, era a a hora do lanche, por conta da lancheira! Pra quem não imagina o que seja, era um dispositivo assimSe a hora do recreio tivesse trilha sonora, a minha seria esta:


Eu abria minha lancheira com um pavor sobrenatural. Tudo podia acontecer. Geralmente, os líquidos mal acondicionados eram os primeiros a provocar o desastre – pois minha mãe achava que refrigerante era coisa que se mantinha bem em garrafinhas com frágeis tampinhas plásticas presas ao gargalo. Então, tudo o que era sólido não se desmanchava no ar, mas virava uma pasta bizarra. Quando passei da lancheira ao Bauzinho Primícia, a lista de micos gastronômicos variou. Você não sabe o que é um Bauzinho Primícia? 


Bom, ali dentro, além dos livros e cadernos, ia o malévolo lanche. Quando potes de iogurte Chambourcy encontravam as espirais de arame dos cadernos, meus amigos e minhas amigas, era a Faixa de Gaza no seu material escolar. Eu vivia à mercê do desgoverno de alimentos, cadernos e livros – pensando bem, a trilha sonora do recreio também poderia ser:


Ou ainda:


Pois chá com bolinho-de-chuva são coisas que lhe parecem simpáticas? Pois são, mas quando separadas. Tudo junto fica uma bosta, tenho a dizer. Biscoitos embaixo da Novíssima Gramática, de Domingos Paschoal Cegalla (439 páginas), só se fossem inalados. Mas o prêmio Sam Peckinpah do lanche escolar ficava por conta da fatia de bolo com cobertura e recheio cuidadosamente enrolada num fino guardanapo de papel...

Isso posto, o Trator quer fazer um apelo a mães, pais e gentes que escrevem sobre a alimentação na vida escolar: além da aparência, de ser saudável e o escambau, o acondicionamento do de-comer é importantíssimo! Por favor, basta de complicações escolares e alimentares!!



Anita Ekberg (1931-2015)





domingo, 11 de janeiro de 2015

“Por que há tragédias e mortes que dão audiência e outras não?” (Sakamoto)


Leonardo Sakamoto 
Mantive, durante anos, na sala do meu escritório uma capa da revista Time retratando centenas de corpos espalhados no chão de Ruanda, vítimas do genocídio perpetrado pela maioria hutu contra a minoria tutsi em 1994. Nela, pessoas procuram por parentes e aves procuravam por almoço.
O título era algo como “Este é o início dos últimos dias, o apocalipse'' – talvez uma tentativa de chamar a atenção dos Estados Unidos e Europa para o massacre através de um elemento simbólico que está no alicerce de sua fundação: o julgamento final do Novo Testamento.
Mas não era o começo do fim, apenas mais um expurgo – tanto que, após os 800 mil mortos em Ruanda, tivemos tempo de matar mais 400 mil no Sudão.
Essa capa era um lembrete para me empurrar para fora da zona de conforto. E também uma verdade incômoda. Em 1998, quando estava cobrindo a guerra pela independência de Timor Leste, onde o exército indonésio matou – de bala ou de fome – mais de 30% da população da ilha, um vendedor me disse, ao saber de onde eu era, que ficava feliz pelo Brasil, visto como um grande irmão lusófono, apoiar a luta.
Não tive coragem de dizer a ele que o meu país nem sabia de sua existência e que se aqueles mauberes pardos vivessem ou morressem, praticamente nenhuma ruga de preocupação seria produzida. Duvido que entre vocês, leitores, muitos tenham ouvido falar do Massacre do Cemitério de Santa Cruz, em Dili, capital de Timor. Imagine quantos massacres mais, mundo afora, acontecem invisíveis.
Por que relatamos tão pouco mortes nesses locais? A discussão faz parte de alguns debates acalorados em jornalismo. Isso é de interesse público? Do nosso público? As pessoas se interessam em saber sobre isso? Como as pessoas vão se interessar sobre isso se não as informamos com a devida importância? É possível ter opinião formada (não preconceito de internet) sobre aquilo do qual nunca se ouviu falar? Enfim, “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais''?
Some-se a isso alguns elementos. Na teoria, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que todos temos direito à dignidade por termos nascido humanos. Na prática, a vida de não brancos vale menos que a vida de brancos. E a vida de ricos vale mais que a vida de pobres. E as das mulheres menos que as dos homens. Simples assim. Se essa vida for de religião que cause estranhamento aos olhos ocidentais, pior ainda.
Outro elemento é a justificativa cultural, de que mortes em Nova Iorque, Roma, Paris e Londres causam mais impacto porque estão mais “próximas'' de nós. Elas aconteceriam no mesmo “caldo cultural'' em que estamos inseridos, com o qual temos uma histórica troca e convivência mútua e através do qual construímos nossa sociedade.
Sabemos quem são e como vivem e trabalham os moradores dessas cidades. E, a partir desse conhecimento, geramos empatia: nos projetamos no outro, entendemos a sua dor e conseguimos até senti-la.
Sim, mas se dividimos elementos simbólicos com a “metrópole'' também temos elos com as outras “colônias'', que passaram por processos históricos semelhantes aos nossos e, como nós, têm que pagar, até hoje, seus tributos. Seus problemas econômicos e sociais são semelhantes e, não raro, suas dores também. Mas damos as costas ao Sul e nos projetamos apenas ao Norte, sonhando, talvez um dia, em sermos reconhecidos como parte da mesma civilização ocidental da qual não fazemos parte.
Não é inato um jovem brasileiro se interessar mais por Miami do que por La Paz. Ele aprende isso. Da mesma forma que aprende que a África, boa parte da América Latina e o Sul da Ásia são locais em que a vida não vale muita coisa, em que selvagens se matam desde sempre, como se as marcas da colonização e os processos políticos e econômicos globais, somados à ignomínia dos seus líderes locais, não valessem de nada.
Se eles tivessem oportunidade de conhecer o outro, as coisas seriam diferentes.
Uma menina-bomba, com cerca de dez anos de idade, teria se explodido, neste sábado (10), levando 20 pessoas consigo em um mercado na cidade de Maiduguri, norte da Nigéria, área de atuação do Boko Haram – milícia fundamentalista que deturpa os ensinamentos do islamismo em sua luta por poder. Ganhou pouca atenção no noticiário.
Da mesma forma, provavelmente você nunca ouviu falar de Ricky.
Tive o prazer de conhecê-lo há alguns anos. Sua história é incrível. Ele foi raptado e escravizado quando criança pelo Exército de Resistência do Senhor, em Uganda – um grupo fundamentalista que deturpa os ensinamentos do cristianismo em sua luta por poder, liderado por Joseph Kony, que se dizia porta-voz de Deus. Os meninos passavam por lavagem cerebral para se tornar soldados e, as meninas, para servir de escravas sexuais. Ele conseguiu fugir, graduou-se e criou a Friends of Orphans, uma organização não-governamental que luta para reintegrar esses jovens à sociedade.
Disse-me que não há como alguém conhecer uma criança que foi escravizada para matar e morrer e aquilo não mudar a vida dessa pessoa definitivamente. Porque o relato levaria a perceber que todos aqueles que matam em nome de Alá ou Jeová, na verdade, não acreditam neles. E que mesmo esses “combatentes'' não são bestas-feras, mas pessoas transformadas em máquinas de guerra. Às vezes em nome daquilo que enche o tanque de nossos carros, às vezes em nome daquilo que brilha em dedos e pescoços.
Entramos na rede e, em um pé de página, a Anistia Internacional denuncia que os açougueiros do Boko Haram podem ter matado centenas, em sua maioria mulheres, crianças e idosos, na Nigéria. Faltam braços para apurar e checar a informação ocupados com outros assuntos . Alguns importantes e que também são de interesse público. Outros, nem tanto.
Temos afinidade com aquilo que nos é mais próximo ou que desperta determinados sentimentos. Entendo que a libertação de 150 escravos que sangram na Amazônia para produzir boi que muitos nem sabem como vira bife choca menos que o resgate de um jovem sequestrado em nossa cidade.
Mas todos sabem o que é uma criança. É duro, portanto, imaginar que não desperte sentimentos. Talvez isso ocorra por banalização dessa violência. Talvez por um ato de fuga consciente ou inconsciente diante da crença na incapacidade de fazer qualquer coisa para resolver o problema – mesmo que a indignação com a história de vida daquela criança africana possa te levar a ajudar na melhoria da qualidade de vida das crianças que estão ao seu lado.
Talvez a resposta resida no fato de que uma criança nua, exausta e com olhar perdido numa cama na beira de estrada depois de uma hora de sexo forçado ou coberta de sangue após um dia de confronto armado ou explodida em mil pedaços após um ataque suicida não é uma coisa fofa de se ver. Pelo contrário, para muitos é tão repugnante a ponto de transferirem a culpa pelo ocorrido para a própria vítima que “se deixou ficar naquela situação deplorável''.
A discussão não é apenas sobre a distante África, mas também sobre as periferias de nossas cidades que ficam logo ali. Em São Paulo, no Rio e em tantas outras, há uma matança de jovens, negros e pobres – segundo as estatísticas do poder público. Mas desde que seu sangue não respingue nos outros, tudo bem.
Não estou comparando tragédias pelo número de mortes, uma vez que uma única morte pode compor uma tragédia. Mas a indignação por algo não exclui a indignação por outra coisa. E jogar para baixo do tapete os incômodos que também dizem respeito a todos nós, não fazem eles desaparecerem.
Portanto, busquem informação na internet para além de sua zona de conforto. E exijam de nós, jornalistas, que tenhamos coragem de oferecer informação que as pessoas não querem ler a despeito da audiência, da circulação e de outras formas de “medir'' o interesse público.
Por fim, dei de presente a capa da revista para uma amiga que estava em seus primeiros passos no jornalismo. Não que eu não precise mais do lembrete, a ética é o exercício diário da memória. Mas aquilo é muito forte para ficar na memória de uma pessoa só. Torço para que a geração dela, inspirada em nossos erros e acertos, seja melhor que a nossa.
Em tempo: Há boas coberturas com olhar brasileiro sobre essas regiões do planeta. Sem demérito aos demais colegas, destaco as reportagens sobre a epidemia de ebola em Serra Leoa, tocadas pela repórter especial Patrícia Campos Mello e pelo repórter fotográfico Avener Prado, ambos da Folha de S.Paulo.



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Por que motivo você é Charlie?




“Na privada, todas as religiões!”
(CH, 2011)


Fico espiando do canto, aqui deste Trator, análises que se multiplicam nas quebradas virtuais, tentando dar conta do que aconteceu em Paris no dia 7. Muitos comentários, compartilhamentos, joinhas, curtidas e afins.

Sobre o fato em si, não tem muito que analisar: assassinato, brutalidade pura, obscurantismo, ignorância, terror como instrumento. Não há justificativa que se aceite. Mas aí, há as outras camadas de reflexões, apoios, alinhamentos; todas fazendo com que o fato – o massacre na redação do Charlie Hebdo – seja esticado para lados diferentes, por quem busca apresentar respostas definitivas, relações nunca dantes imaginadas, sacadas geniais (que, claro, impressionarão audiências no fêici). 

E nesse movimento de esticar e deformar um fato para que caiba nas próprias convicções de quem o analisa, a máxima “não existe a verdade histórica, mas interpretações” é levada até limites esquisitos, beirando mesmo a incompetência profissional (pra não dizer má-fé). Tenho lido textos em sites de “pensadores”, esbarrando em comentários do povo todo trabalhado nas humanidades e ciências sociais – exatamente como eu (obviamente que não gasto preciosos minutos a me informar sobre o que acham sherazades, reynaldos, diogos, vejas e demais perdas de tempo na vida de quem produz sinapses regulares).

Então, em várias das reflexões apresentadas como mais elaboradas por viventes pensadores, tropeça-se em muita bobagem, daquelas produzidas para impressionar, pretendendo trazer à luz o detalhe que ninguém viu, a referência que ninguém tem. Tudo isso bem embebido nas próprias preferências do autor, políticas, artísticas, geográficas, o escambau. Para que o truque funcione, é necessário então moldar, deformar informações de modo que se harmonizem em uníssono, dando aquela sensação de sapato 33 em pé 36.

“Estupro: saiba se defender”
(CH, 1976)

Assim, há os defensores perpétuos de um “mundo muçulmano” homogêneo e totalmente imaginário, verdadeiros profissionais da desinformação, que não distinguem Arafat de Massoud, mas que veem uma luta linda e sem fim contra o ocidente, contra os estadunidenses (todos absolutamente iguais e FDPs, na sua visão). Defendem qualquer ato, palavra ou silêncio desse “mundo muçulmano” que aplainaram em suas ideias muito mais que os amigos verdadeiramente muçulmanos que tive (e que raciocinavam, bem entendido). Para estas figuras, todo o massacre é justificado por conta da opressão, e todo francês de origem árabe vive miserável, na periferia, sem eira nem beira (todos, sem exceção). Nunca ouvi muitas menções desses defensores perpétuos às mulheres nas piores regiões desse “mundo muçulmano”, mas já ouvi um deles justificar a lapidação como “costume”, prática cultural a ser respeitada. É claro que o Islã não é isso, só estúpidos imaginam que sim; mas se a criatura defensora perpétua, igualmente estúpida,  passa seu tempo a justificar esse tipo de prática, a única coisa que vem à luz é exatamente essa deturpação.

“Shoah Hebdo
Milagre em Auschwitz. 
O Talmud é mágico, transforma água em gaz e gaz em ouro.”
(CH, 2008)


Há também os tipos que enxergam a própria causa em tudo o que acontece pelo mundo, em qualquer época. Assim, tudo o que preconize liberdade, mencione justiça e questione instituições, só pode, não tem outro jeito, ser de esquerda. Da “minha esquerda”. Organizada em partido, semelhante em tudo ao “meu partido”. Mesmo que essa comparação não se sustente no mundo real. A pessoa precisa organizar os próprios referenciais, administrar as próprias crises, e nada como um fenômeno da proporção desse do dia 7 para ajudar a se equilibrar – claro, equilíbrio existente apenas na cabeça da criatura que faz essas associações, e que acaba se emaranhando em informações falsas, conclusões simplistas, observações tolas.

Digo tudo isso depois de ter lido sobre um suposto pertencimento à extrema-esquerda da redação do Charlie assassinada. Já começa mal o autor do artigo, primeiro porque anula individualidades de gerações e experiências diferentes. O grupo não era um bloco a se filiar à mesma ideia, mesmo que compartilhasse de princípios comuns, como a liberdade acima de tudo, a denúncia de seu cerceamento, a recusa da força bruta como instrumento político e o riso em todas as ocasiões. Mas não dá pra congelar a imagem de um jovem universitário de 1968 (um soixante-huitard) e transplantá-la para o século XXI, dando a entender que pessoas de 70 anos, com toda a experiência que já viveram, são exatamente iguais e mantêm exatamente as mesmas ideias de 45 anos atrás. Mais ainda, que uma geração subsequente, também na redação do periódico, siga exatamente os mesmos passos. E isso não é informação fechada à chave em algum arquivo de sacristia, basta conhecer um pouco da biografia dessas pessoas e, importante, basta ter lido o Charlie de diferentes épocas, para saber do que se trata. Assim, enquadrar a redação do periódico, inteira, como extrema-esquerda é, no mínimo, erro de informação.

“228 desaparecidos...
... 228 abstenções a mais nas eleições para o Parlamento Europeu!”
(CH, 2009 – queda do vôo 447 da Air France)


Se houve uma constante nas publicações e nas posturas dos redatores e desenhistas foi o humor, certamente, mas não qualquer humor. E aí, outro choque no debate ralo, entre os que destacam um suposto senso de humor puramente engajado versus os que denunciam uma suposta islamofobia. 

A derrisão de seus autores sempre teve passagem obrigatória pela política; pela laicidade; pelo iconoclasmo; pela falta de respeito ao que quer se apresentasse. Goste-se ou não. A provocação era o horizonte, e não faltaram processos ao periódico por ultrapassagens de limites considerados aceitáveis. Quedizê, não rolava um humor muito fino, muito nouvelle cuisine, a provocar risos blasés. Muitas das imagens e dos textos que as acompanham chegam ao limite do mau gosto, da grosseria, e são herdeiras de uma tradição de humor e imprensa francesas de mais de dois séculos. Isso era um instrumento poderoso para detonar certezas, provocar sem poupar ninguém. Sobrava pra todo mundo, e geralmente da pior forma...

“Junho de 1940:
Eram bons tempos”
(Hara-Kiri, 197?)


Li outro texto que lembrava as origens do Charlie no periódico Hara-Kiri (“jornal besta e malvado”, como se anunciava em sua capa). Os veteranos do Charlie lá estavam, e durante uma década produziram um periódico “anárquico”, com capas escatológicas que não deixavam dúvidas sobre o teor de seu conteúdo. Sim, esse era o humor 68, detonando a família, a política, a igreja, os costumes, tudo o que ainda recendesse ao início do século XX, tudo o que pudesse ser suspeito de tradição, pudor e discreção. Uma geração inteira aprendeu a rir e a questionar muitas coisas com a Hara-Kiri, depois com o Charlie Hebdo

Isso não quer dizer que havia um suposto refinamento de humor inteligentérrimo e cheio das referências literárias, como sugeriu a pessoa que escreveu o texto sobre a revista, citando algo como “humor sutil”. Oi?! Sutileza era o que mais faltava ali! Não significa, por outro lado, que seus autores fossem alienados, estúpidos, sem qualquer reflexão política, filosófica, artística, ao contrário – mas é o tipo de situação que incomoda quem não consegue ultrapassar os limites da própria experiência, que não consegue visualizar um mundo plural, cheio de arestas e coisas difíceis a explicar. 


“Um gesto digno da França:
Giscard [então presidente da república] adota uma ugandense.
– Votem no papai!”
(H-K, 1975)

Eu não tenho muita certeza de que quem se afirmou como sendo Charlie o faria se tivesse folheado as revistas. O que leva a outro ponto que incomoda, mais ou menos variação sobre o mesmo tema: e o medinho de aparentar defender algo diferente dos próprios referenciais só por ter condenado um assassinato? E o receio que dá descobrir que houve empatia e tristeza por pessoas que não tinham as mesmas referências, que talvez até pensassem de forma completamente diferente? Ah, não, né? Porque nesse tipo de (falta de) raciocínio, se você não abraça minha bandeira, minhas exatas referências, ações e filiações, dane-se. Busca-se transformar o mundo no cercadinho limitado onde se guardam algumas ideias – pior pro mundo se a maior parte da vida não couber ali.

Sei lá, no todo-dia, em situações críticas e próximas, tem quem não seja tão Charlie assim...

  
“Carta oficial de intelectual comunista,
concedida por Hara-Kiri ao camarada xxxx,
por ter respondido corretamente 'Moscou' no exame.

Esta carta autoriza seu portador a circular gratuitamente 
nos tanques russos de transporte público do povo.

O portador desta carta cumpriu satisfatoriamente o exame abaixo:
Encontre o nome da grande capital de um grande país socialista, 
completando, com letras, o espaço pontilhado”

(H-K, 1971)


Em tempo – uma frase que ouvi de uma professora de literatura, que parece tão óbvia, mas não é: cada um lê como consegue, não como quer...


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A atualidade em preto e branco (Charlie Hebdo)

Dia triste, muito triste – homenagem...

– Viu o último Charlie?
– Mortal!
(Pez)


Ele desenhou primeiro!
(David Pope)


Maomé sobrecarregado pelos fundamentalistas:
– É duro ser amado por estúpidos!

(capa do Charlie Hebdo de 21/02/2006)






domingo, 4 de janeiro de 2015

O efeito David Guetta

Outro dia, falava com o Luiz sobre algo que apareceu no noticiário local, assim, meio normal, banal...

 

Mas banal não ocorre em Florianópolis, muito menos no fim do ano, muito menos com celebridades pisando o mesmo solo e criando “notícias”. Logo, o que era agitar vira ensandecer. Ah, parece uma boa palavra, né? Mesmo que signifique “tornar idiota”, segundo o Houaiss.



Outra ideia tinha sido pensada, mas como sugerisse algo ilícito, ficou apenas subentendida no link da página. Seja como for, era necessário dar a ideia de que foi algo monstruoso, nunca dantes visto, supercalifragilisticexpialidocious!
 

Mas sei lá, tipo assim, essas palavras são todas já usadas há tempos, é necessário criar outras; ao menos, inventar outros significados para palavras já existentes. Ou, como diria qualquer criatura que domine ferramentas linguísticas do idioma pátrio, usar palavras incorretamente. O que conta é dar uma ideia de evento praticamente sobrenatural, em uma dimensão alternativa que só existe em Florianópolis.


Então tá... Obrigada, Diário Catarinense! Ficamos sabendo agora que show é para fracos. O lance é reverberar a galera. Tá?! Seja lá o que signifique isso...

uma boa versão desse efeito, aqui.