segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Sexo, apologia e críticas – não faça isso errado!


Variações sobre o mesmo tema. Ainda sobre campanhas publicitárias desastrosas. Especificamente, a da Skol. 

Concordo que campanhas publicitárias não fazem apologia ao estupro. Apologia é outra coisa – mais direta e mais assumida, coisa que a ambiguidade da publicidade não permite. Mas não há dúvidas de que fazem a propaganda do mundo-cueca, da testosterona como “motor da história”, do machismo e da misoginia como análise de mundo (ideias muitas vezes abraçadas por todos os gêneros).

Claro, as pessoas não são obrigadas a comprar o que as marcas e as agências publicitárias vendem. Mas têm todo, mas todo o direito de criticar, sapatear e interferir em mensagens plantadas em espaços públicos e com as quais não concordam.

Sim, a livre expressão de ideias deve estar garantida. Para todos, belê? Você expõe – ou melhor, grita – sua visão de mundo em cada esquina, tela, página impressa. E não quer reação? E exige pleno aceite? Não dá, né?

Além do mais, boas notícias, marcas, agências e consumidores que se sentem oprimidos por uma horda-de-feministas-terroristas-que-explodirão-a-cabeça-de-quem-estiver-olhando-uma-bunda*: as ideias sobre o mundo não são permanentes. As experiências sobre este mundo também não. Machos-alfa existem em todos os recantos sociais, mas isso não é uma lei da natureza. Nada que mudanças sociais não deem jeito. Nada que evolução de ideias não alcance.

Isso não significa a apologia a um mundo esterilizado, moralista, assexuado, a policiar transgressões, feita por mulheres mal-amadas-feias-sem-alegria-na-vida-estraga-prazeres-recalcadas ou pela ditadura-LGBT. Pois, pasmem cérebros-cueca (presentes em muita cabeça feminina igualmente): vocês não detêm a exclusividade sobre o erotismo, o sexo, a pornografia, a transgressão. Esses não são recantos unicamente dedicados a vocês. E a multiplicidade existe não para a sua satisfação apenas nem seu julgamento. Não gostaram? Ok. Aceitem e superem – como sugerem as propagandas do mundo que vocês consideram ideal. 

Ou então, simplesmente aceitem o fato de que suas ideias não são o limite do mundo conhecido; seus referenciais sociais, morais, sexuais e o escambau são só seus. E receberão críticas na medida em que as pessoas tiverem outras ideias. Provocarão reações inversamente proporcionais ao establishment em que você se agarra.   

Sugestão de documentário para a semana, só pra acrescentar ideias:






* é sempre bom explicar que se trata de uma imagem irônica, tá? Não se tranquem em casa esperando ataques em suas vidas tão coerentes e sempre-foi-assim.