terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O cultivo no ódio no Brasil




 O assassinato do ambulante Luiz no metrô: Um conto de Natal brasileiro

O vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas foi espancado até a morte por dois homens após, segundo a polícia, tentar defender duas travestis em situação de rua que estavam apanhando deles no centro de São Paulo. Chegou a correr para a dentro da estação de metrô Pedro II, mas foi perseguido, derrubado e levou socos e pontapés por um minuto e meio.

Tudo nessa história converge para chocar: o espancamento de um homem de 54 anos por dois jovens de 26 e 21; a morte ter ocorrido dentro de uma estação de metrô; a falta de preocupação dos rapazes de fazerem isso em um local em que certamente seriam identificados; não ter aparecido nenhum segurança para impedir; câmeras terem gravado as imagens que, mostradas pela imprensa, viralizaram pela rede; uma pessoa já discriminada socialmente (um vendedor ambulante) ter morrido porque tentou defender outras pessoas que também são (travestis); ser noite de 25 de dezembro, Natal.

É a mistura da banalização da violência, da sensação de onipotência e de invencibilidade, do ódio profundo a algo.

A banalização da violência causada por uma sociedade que transforma a violência em produto e a vende diariamente, na forma de programas sensacionalistas na TV, de jogos para computador ou videogame. Uma sociedade incapaz de refletir sobre a importância do diálogo e não da força na resolução de conflitos.

Há quem se sinta onipotente por fazer parte de um grupo tido como hegemônico (homens, héteros…) Pensa que, com isso, os outros lhes devem algum tributo. O sentimento sempre esteve presente em nossa história e a violência e as mortes impunes decorrentes dele também. Mas acredito que essa sensação foi potencializada após certas visões ultraconservadoras terem saído do armário diante do contexto favorável nos últimos anos. Perdeu-se o pudor de não ter pudor.

Isso sem contar o ódio profundo. Prega-se em púlpitos, em plenários, na TV, em reuniões com amigos, que o mal precisa ser extirpado. Que há pessoas ou grupos que representam o mal e precisam ser eliminados. Quantas vezes não lemos nas redes sociais comentários como ''ele é um câncer que precisa ser extirpado'' ou ''tal pessoa merece a morte''? Na superfície dessa afirmação, há ódio. Mas se escavarmos um pouco, chegaremos ao medo do desconhecido e do diferente e, portanto, à ignorância sobre o outro.

Nesse ponto, vale ir mais a fundo.

Ao assistir às imagens chocantes do assassinato de Luiz, lembrei-me de um depoimento que me foi dado por Maria Aparecida Costa, que militou contra a última ditadura civil militar. Ela ficou presa por três anos e meio, dos quais dois meses sendo torturada no DOI-Codi, na rua Tutóia, em São Paulo, local onde hoje fica o 36o Distrito Policial. Paus-de-arara, eletrochoques, ''cadeiras do dragão'' e tantos outros métodos criativos aplicados na resistência por militares e policiais tinham lugar por lá.

''O ódio. Eu não consigo, até agora, entender de onde vinha tanto, tanto ódio.''

A dúvida de Maria Aparecida tem mais de 40 anos, mas bem caberia na polarização tacanha de hoje, em que muitos não reconhecem os outros como seus semelhantes simplesmente porque esses pensam diferentes ou são fisicamente diferentes. Enxergamos inimigos em cada esquina.

A tortura, naquela época, firmava-se como arma de uma disputa. Era necessário ''quebrar'' a pessoa, mentalmente e fisicamente, pelo que ela era, pelo que representava e pelo que defendia. Não era apenas um ser humano que morria a cada pancada. Era também uma visão de mundo, uma ideia.

Há um incômodo paralelo entre as mortes ocorridas no DOI-Codi e a morte de Luiz Carlos. O que Luiz sofreu antes de morrer foi uma sessão de tortura pelo que ele era, pelo que representava e pelo que defendeu.

É inominável a sensação de que isso não acontece apenas nos porões, nos becos, no escuro, mas na frente de câmeras de segurança e de centenas de pessoas. Esqueça a questão ética, que nem está presente. A morte foi praticamente uma encenação da estética da violência reprimida e que, agora no Brasil do caos, ganha a liberdade. E, portanto, uma declaração pública, inconsciente ou não.

Ainda hoje, Cida tenta entender o que ocorreu. ''Tinha mais alguma coisa. Claro que a justificativa era ideológica. Mas tinha mais alguma coisa. Porque eles sentiam prazer de verdade no que faziam. Prazer de verdade em torturar.'' Talvez o ódio surgia, como ela lembra, da sensação de poder. De fazer porque se pode fazer enquanto o outro nada pode.

Luiz não deveria ter dito ''Não faz isso com o rapaz'', quando eles agrediam uma das travestis. Mas agiu com justiça e disse e, ousando sair de sua invisibilidade e pagando um preço caro por isso.

Dizem que carrascos não podem pensar muito no que fazem sob o risco de enlouquecerem. Mas também dizem que os melhores carrascos são os psicopatas que gostam do que fazem. E se dedicam com afinco a descobrir novas formas de garantir o sofrimento humano.

A certeza do ''tudo pode'' provoca vítimas nas periferias das grandes cidades, entre a população LGBT ou em situação de rua, entre os jovens negros e pobres, grupos cuja vida, para nós, vale muito pouco. Eles sempre sofreram e morreram, mas sem que as imagens corressem pela internet.

O problema é que ódio não surge de geração espontânea. É cultivado.

Como já escrevi aqui, pastores e padres de certas igrejas inflamam seus fieis contra aquilo que consideram um desrespeito às leis de seu deus. Quando um grupo espanca um gay ou uma travesti, esses pastores e padres dizem que não têm nada a ver com isso.

Figuras públicas da TV inflamam a população contra a degradação da civilização e das famílias de bem. Quando um grupo resolve amarrar alguém em um poste e linchar até a morte, essas figuras públicas dizem que não têm nada a ver com isso.

Certas famílias inflamam seus filhos contra o público LGBT, contra jovens negros e pobres da periferia e contra pessoas em situação de rua, dizendo que são uma ameaça à vida nas grandes cidades e não valem nada. Quando um grupo resolve despejar preconceito ou dar pauladas e por fogo nessas pessoas, as famílias dizem que não têm nada a ver com isso.

Políticos, de governo e oposição, inflamam seus eleitores, desumanizando o adversário e transformando o jogo democrático em uma luta do bem contra o mal. Quando um grupo passa a agredir fisicamente o outro, os políticos dizem que não têm nada a ver com isso.

Hordas de guerrilheiros digitais sob perfis falsos inflamam seus leitores, repassando conteúdo violento e falso. Quando um grupo passa a assediar, de forma injusta, pessoas ou instituições com base nesse conteúdo, há quem diga que as pessoas por trás desses perfis e páginas nas redes sociais não têm nada a ver com isso.

Talvez, no fundo, todos estejam certos.

Culpado mesmo era o Luiz.
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domingo, 25 de dezembro de 2016

Das tradições natalinas brasileiras

Digna do “pavê” e do “mas é torta ou é reta?”, a matéria sobre as malditas compras de última hora. O baixo nível dos telejornais nacionais é praticamente um patrimônio cultural brasileiro ...



🙈 






sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sinceridade infantil

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Na ilegalidade e desinformados (Safatle)



A democracia é um regime muito interessante. Nela, o Congresso Nacional é a representação dos interesses do povo. Povo este que, afinal, como costuma se dizer, é a fonte do poder, escolhendo em plena liberdade seus representantes.

Mas há estes momentos mágicos nos quais os representantes decidem contra os interesses e escolhas dos representados. Alguém poderia dizer que essa é prova cabal de como o sistema é farsesco, de como a representação é distorcida, de que o melhor seria dar ao povo a possibilidade de decidir diretamente sobre questões que tocam, de forma absoluta, seu destino. Mas não. Dizer isso seria "populismo", seria entregar às flutuações dos humores populares decisões que exigem "grande conhecimento técnico" e frieza analítica.

Coisa para especialistas, não para o populacho. Bem, é essa tecnocracia de combate que se chama hoje de "democracia".

Vejam que coisa interessante ocorreu nesta semana. O Senado se reuniu para se autoimplodir e, juntamente com sua imolação, implodir o resto de garantias sociais que havia no Brasil. A partir de agora, o Congresso não pode, de fato, discutir orçamento por 20 anos, já que terá que respeitar um teto construído a partir dos gastos atuais.

Gastos completamente inadequados, responsáveis pela situação falimentar de nossos hospitais e pelas dificuldades de nossas universidades. Como muitos já lembraram, o pagamento de juros e serviços da dívida pública, a verdadeira fonte dos gastos do Estado, ficou fora do teto, pode subir quanto for necessário. No que se mostra com quem o poder está realmente comprometido.

Enquanto o Senado tomava tal decisão, 63% da população afirmava ser completamente contra esta infâmia. Se, de fato, democracia houvesse, o Congresso passaria a decisão a sufrágio universal.

Afinal, quem paga a orquestra, escolhe a música e quem paga esse absurdo somos eu, você, os motoristas de ônibus, os agricultores, operários, profissionais liberais, em suma, quem realmente trabalha neste país.

Mas chamar a população "inculta" para deliberar diretamente sobre tamanha responsabilidade seria desatino populista, gritam os corvos economistas com seus ninhos de ouros patrocinados pelo sistema financeiro local.

O filósofo Bento de Spinoza, em seu Tratado Político, tem uma bela afirmação a respeito da pretensa "ignorância" popular: "Não é de se admirar que não exista na plebe nenhuma verdade ou juízo, quando os principais assuntos de Estado são tratados nas suas costas e ela não faz conjecturas senão a partir das poucas coisas que não podem ser escondidas. Suspender o juízo é, com efeito, uma virtude rara. Querer, portanto, tratar de tudo nas costas dos cidadãos e que eles não façam sobre isso juízos errados e interpretem tudo mal é o cúmulo da estupidez".

A afirmação foi publicada em 1670 e, desde então, a situação não mudou muito. Tratar os principais assuntos do Estado nas costas dos cidadãos, omitindo informações ou publicando informações relevantes no meio de discussões sobre quem foi para o paredão no último BBB é o que mais vemos entre nós.

Não é de se admirar que, em pesquisa do Instituto Ipsos Mori, descubramos que a população brasileira acredita que 25% do PIB é gasto com saúde, enquanto o número correto é 8%. Ela acredita que os 70% menos ricos dispõem de 24% da riqueza, enquanto eles dispõem, na verdade, de 9%. Não, nossa população não é "inculta". Ela é vítima de um sistema de bloqueio e desinformação.

Mas estamos apenas engatinhando na arte de governar de costas para o povo. Ao que parece, vem aí uma eleição indireta para presidente, tramada pela junta financeira em jantares caros pagos pelos juros imorais do seu cartão de crédito. Sim, a degradação institucional e a infâmia não têm limites nesse conchavo de oligarcas em que o Brasil se transformou. Contra isso, vale a pena lembrar: toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. A maior ilegalidade deste governo é temer seu próprio povo.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Por que Calheiros fica? (V. Safatle)







Se alguém ainda tinha ilusões a respeito de o Brasil continuar como uma república, esta semana serviu para dirimir as últimas dúvidas. Ela termina com a reedição da antiga teoria medieval dos dois corpos do rei.

Um dos maiores historiadores do século 20, Ernst Kantorowicz ficou célebre por seus estudos sobre a especificidade da incorporação do poder na Idade Média.

Suas formulações apontavam, presente tanto no direito quanto nas representações políticas, para um duplo corpo do rei: o rei tem, ao mesmo tempo, um corpo mortal, corruptível, e outro imortal, incorruptível, sublime, que desconhece tempo.

Em algumas situações, lembrava Kantorowitz, chegou-se até a usar o corpo sublime contra o corpo perecível, julgando o rei em nome do rei.

O que não sabíamos é que Renan Calheiros também tem dois corpos. Um é réu em processo penal, por isso é corpo de suspeito de crime grave, o que o coloca como incapaz de assumir a função máxima de presidente da República. O outro é um corpo sublime, que não traz as máculas e as suspeitas do primeiro corpo e que, por isso, pode ocupar a presidência do Senado

Enquanto não for chamado à função de substituto do "presidente", Renan se apresenta à República com seu magnânimo corpo sublime. Quando ele aparecer na linha de substituto, Renan voltará a existir em seu vil corpo réu. O bom e probo Eduardo Cunha não foi contemplado com tamanha escolástica. Uma pena.

Que uma aberração desta natureza possa ter sido gestada à luz do dia não devia, no entanto, surpreender ninguém. Quem decidiu a permanência de Renan Calheiros na presidência do senado não foi o STF, mas a junta financeira que nos governa.

Renan é necessário para garantir a tramitação da PEC que congela os gastos públicos por 20 anos, enquanto libera do congelamento os bilhões pagos pelo governo federal com serviço e juros da dívida pública que fazem do sistema financeiro brasileiro um dos mais rentáveis do mundo.

Essa PEC, que retira do Congresso a possibilidade de realmente discutir o Orçamento, transformando-o assim em uma associação recreativa quer irá nos animar com cenas de xingamento, soco e outros pastelões, faz do Estado brasileiro um mero ente que visa capitalizar o dinheiro de rentistas privados. Um Estado privado, não uma república.

Aqueles que vendem a ilusão de que tamanho desmonte do serviço público brasileiro será o caminho triunfal para a saída da crise podem se mirar nos exemplos de todos os outros países que aplicaram "políticas de austeridade" (menos brutais que esta, diga-se de passagem).

Todos eles enfrentam processos de pauperização e precarização que serviram de campo livre para a extrema-direita. Mas por que você confiaria em "analistas" que são normalmente pagos de forma régia por aqueles mais interessados no assalto?

Retirar Renan da presidência poderia significar paralisar todo o botim resultante do saque do Estado brasileiro, por isso, ele fica.

O senhor Calheiros entrou na linha de tiro por querer limitar o poder do Judiciário, que acredita governar o Brasil na ausência de qualquer legitimidade substancial dos outros dois poderes.

Mas, bem, os juízes também precisam se submeter à junta financeira. Eles aprenderam isso nesta semana. No entanto, eles podem ficar tranquilos pois serão recompensados, já que o governo, enquanto se propõe a destruir o que sobrava da previdência deste país, já ofereceu aumentos e outras regalias para nosso bravo Judiciário. E, claro, ele também não esqueceu de não incluir as valorosas Forças Armadas na reforma previdenciária. Nada estranho, já que todos eles sempre viveram em outro país.

Enquanto isto, os brasileiros que lutam para não serem espoliados de seus últimos direitos levam tiros de policiais que invadem igrejas para combater o velho inimigo interno de sempre: o próprio povo brasileiro. Enquanto eles lutam na linha de frente, a claque do domingo finge lutar contra a corrupção, esquecendo de gritar o nome do único "presidente" das últimas décadas a ser pego em flagrante de tráfico de influência. Deve ter sido um lapso.
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Agora vai: feliz 1975, moçada!

Sim, boas notícias no horizonte nacional! Perigo vermelho derrotado, instabilidade vencida, economia favorável, superprodução, paz social e o povo de braços unidos, desenvolvendo o gigante!

Tá. Palavras e filme de 1975, mas tá valendo, letra por letra, mais do que se tivessem sido encomendados sob medida! É a modernidade nacional dando o tom há mais de meio de século. Porque panelice pouca é bobagem.


(sem risco de anacronismos)

Elegendo os melhores do ano



🙅 
A-hã.
 


🙇
Tá.


E o *melhor* |sqn| do evento ficou por conta da fraternidade neutra, 
da camaradagem apartidária, néammm?





Agora vai, Brasil! 

🙏

Só falta a Educação Moral e Cívica de volta ao currículo oficial,  
Programa Amaral Netto no Canal Viva 
e CD da Simone (🎵então é Nataaaaaal 🎶) remasterizado!

sábado, 3 de dezembro de 2016

Ousadia no séc. 21: apresentadora de TV usando saia!

Pior que é sério. Machismo de raiz naturalizado como experiência inovadora. Moralismo de arraial passando por novidadinha-na-telinha. Brigada, tá, Fefito

Muitos e muitas acharão natural. Nada de mais, tá? Parece louca. Coisa de mal-amada. 


Que milênio é hoje, gentes? 


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Molotov




Parlamentares em coquetel. 
Quem não comemora, lado de fora
Oposição é caso de polícia
não de política.

Classe-média informada formatada vê
Que depredaram dois carros. 
Que picharam a parede. 
Que quebraram o vidro. 
Sabiam!

Oposição é distúrbio
E cultura política
– participação, estudo, trabalho –
anula-se no berro
Cala boca, baderneira!

Não argumentam
não me perguntam – só sabem
a TV mostrou. 
Alguém virou o carro. 
Alguém jogou a pedra. 
Alguém usava máscara. 

Na dúvida, trancar a vidinha
sem grandes possibilidades.
Aplaudir o coquetel. 
Aplaudir a rapinagem. 
Quebrar o país, só por vias institucionais.
Oficiais.
Patrimônio vandalizado é vidro quebrado. 

Querem ordem. 
Não justiça nem solidariedade. 
Igualdade-liberdade é samba enredo
slogan de padaria francesa – très chic. 


Deixa vir o asteroide!

No final dos anos 90, meu amigo Chiquinho tinha uma teoria, ou melhor, um mito de destruição, que falava do Grande Pai Asteroide. Este voltaria a Terra, levando consigo toda a humanidade. Em resumo: asteroide se choca contra o planeta, morremos todos. 

Entra década, sai década, essa teoria/mito permanece:

Tá. Mas aí, a gente olha pro lado e reavalia a necessidade dessa prevenção, né?


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Francamente?
 Que venha o asteroide! 
Será falha humana, de toda a forma.

😱 


O caneco do dia vai para o Diário Catarinense e sua síndrome de
“é nóis, estamos protagonizando, mesmo que seja com tragédia”. 

 🚯



segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Volta pra PQP!

A moça entra no elevador. Na sua sacola se lê ONU Mulheres. O vizinho a “xinga” de comunista, diz que os militares deveriam voltar para matar "esse tipo de gente". O moço sai com a camiseta do desenho animado: estrelinha amarela, fundo avermelhado. Ele é xingado na rua: petralha!. Pessoa de bicicleta na ciclovia. Xingada: "volta pra Cuba, comunista!". Aluno critica autor que nunca leu: “é comunista, não leio”. Professor universitário sentencia que só há racismo porque falamos demais sobre o assunto. O outro não mede palavras para dizer que mulheres precisam saber se vestir – afinal, “nada mais ridículo que uma mulher sem noção”. Criaturas que foram pra rua berrar pelo impeachment, panelar contra a corrupção, as cotas, as bolsas: envolvidas em fraudes até o pescoço – afinal, se a fraude beneficia “minha família”, tá valendo; corruptos & bandidos são os outros.  Alunos preocupados com políticas públicas para a educação, com a infraestrutura das escolas, com os processos ensino-aprendizagem: “vagabundos, manipulados!”.

Aaahhh, são apenas casos isolados.
Isolados? Apenas?
Precisamos de quantos 'apenas' para criar um padrão?
De quantos 'isolados' para formar uma multidão?
Vamos pagar pra ver?
Até o limite do tarde demais?