quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Garota, a mobilização funciona




E pra quem está chochando a pressão, afinal “o filme não é lá aquelas coisas” ou “há mobilizações mais importantes a serem feitas”, lembro que o problema não é esse. O problema é quando decidem o que você pode ou não assistir (ler, ouvir, ver), em função de valores retrógrados e pessoais – não universais tampouco naturais. Gostar ou desgostar do filme é outra história.




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A garota dinamarquesa: filme banido no Qatar e em Santa Catarina


O filme A garota dinamarquesa (dir.: Tom Hooper, 2015) foi indicado ao Oscar. Inspira-se no livro de David Ebershoff, sobre a vida da artista plástica Lili Elbe, transexual dinamarquesa que viveu no início do século XX.

No Qatar, o filme foi proibido pelo Ministério da Cultura. 
As leis no emirado do Qatar são uma mistura de código civil e sharia – e adivinhem qual deles prevalece em se tratando de hábitos, educação, cultura, relações humanas, sexualidade... Onda há sharia, interdição é a regra. Não concordamos, mas tá explicado.

Santa Catarina é um rico estado no sul do Brasil. 
  
Vivendo a dor e delícia do ocidente contemporâneo, o Brasil é, em teoria, uma democracia laica. Não há sharia valendo como Constituição; mas há um pensamento retrógrado onipresente, determinando decisões sobre hábitos, educação, cultura, relações humanas, sexualidade... mesmo as mais comerciais. Não concordamos, mas não há qualquer explicação sobre essas determinações bizarras... Silencia-se, aguardando um provável esquecimento. 

Por enquanto, apenas esta carta de repúdio da ADEH busca uma explicação:
 

Olá, Cinemark, Cinesystem e Cinespaço! Alguma informação a respeito?



sábado, 13 de fevereiro de 2016

E se a microcefalia vier de um pesticida... da Monsanto?


Com a relação proposta entre o vírus da zika e o surto de microcefalia no Brasil em recém-nascidos parecendo cada vez mais tênue, médicos latino-americanos estão propondo uma outra causa possível: o piriproxifeno, pesticida usado no Brasil desde 2014 para deter o desenvolvimento da larva do mosquito em tanques de água potável. Poderá a “cura” ser, na realidade, o veneno?
A reportagem é de Claire Robinson, publicada por GMWatch - The Ecologist, 10-02-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
As más-formações detectadas em milhares de crianças em mulheres grávidas que vivem em regiões onde o Estado brasileiro adicionou o piriproxifeno à água potável não são coincidências, muito embora o Ministério da Saúde ponha a culpa diretamente no vírus da zika.
A opinião da Organização Mundial da Saúde de que o surto de microcefalia na região Nordeste do país é causado pelos vírus da zika foi, até o momento, pouco questionada.
O ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Castro, chegou a dizer que tem “100% de certeza” de que há uma ligação entre zika e microcefalia, um defeito de nascimento em que os bebês nascem com cabeças pequenas.
Essa visão é amplamente apoiada pela comunidade médica internacional, incluindo o influente Center for Disease Control, dos EUA. Mas não há fortes evidências desta relação. Em vez disso, existe uma mistura de indícios e provas circunstanciais.
Um dos estudos científicos centrais, feito por A. S. Oliveira Melo et al. e publicado na revista Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, encontrou o vírus da zika nos fluídos amnióticos que afetaram bebês e suas mães. Mas somente duas mulheres foram examinadas, um número demasiado pequeno para estabelecer uma ligação estatisticamente significativa.
O jornal The New York Times também informou, em 3 de fevereiro, o resultado das análises feito pelo Ministério da Saúde do Brasil: “Dos casos examinados até agora, 404 foram confirmados como tendo microcefalia. Somente 17 deles testaram positivo para o vírus da zika. Mas o governo e muitos pesquisadores dizem que o número pode ser amplamente irrelevante, porque os testes feitos encontrariam a presença do vírus em somente uma minúscula porcentagem de casos”.
E, no último fim de semana, o indicador mais poderoso de que a microcefalia pode ter uma outra causa foi anunciada pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, segundo reportagem do Washington Post. Autoridades colombianas de saúde pública até agora diagnosticaram, segundo Santos, 3.177 mulheres grávidas com o vírus da zika, mas em nenhum caso se observou microcefalia no feto.


Médicos argentinos: é o inseticida
Agora, um novo relatório foi publicado pela organização médica argentina Physicians in the Crop-Sprayed TownsPCST (na sigla em inglês), que não apenas desafia a teoria de que a epidemia do vírus da zika no Brasil seja a causa do aumento de microcefalia em recém-nascidos, mas propõe uma explicação alternativa.
Segundo a PCST, o Ministério não conseguiu reconhecer que, na região onde vivem mais pessoas doentes, um larvicida químico que produz más-formações em mosquitos foi adicionado no fornecimento de água potável em 2014.
Este pesticida, o piriproxifeno, é fabricado pela Sumitomo Chemical, um “parceiro estratégico” japonês da Monsanto – empresa que estes médicos aprenderam a desconfiar devido ao grande volume de pesticidas dela pulverizados em terras agrícolas na Argentina.
O piriproxifeno é um inibidor de crescimento da larva do mosquito, que altera o processo de desenvolvimento desde a larva, passando pelo estágio da pupa até a fase adulta, assim gerando más-formações em mosquitos em desenvolvimento e matando ou incapacitando-os. O produto age como um hormônio juvenil de inseto, ou juvenoide, e tem o efeito de inibir o desenvolvimento das características do inseto adulto (por exemplo, asas e genitália externa madura) e o desenvolvimento reprodutivo.
O produto químico tem índices de risco relativamente baixos, possuindo uma baixa toxidade aguda. Testes feitos pela Sumitomo realizados em uma variedade de animais descobriu que ele não era um teratógeno (não causava defeitos de nascimento) nos mamíferos testados. No entanto, não se pode tomar essa conclusão como um indicador confiável dos seus efeitos nos seres humanos – especialmente diante das evidências em contrário.
A PCST comentou: “As más-formações detectadas em milhares de crianças de mãe grávidas que vivem em regiões onde o Estado brasileiro adicionou o piriproxifeno à água potável não são coincidências, muito embora o Ministério da Saúde coloque a culpa por este dano diretamente no vírus da zika”.
Eles também notaram que o zika tem sido tradicionalmente tomado como uma doença benigna que nunca antes esteve associada com defeitos de nascimento, mesmo em áreas onde ele infecta 75% da população.


Médicos brasileiros também suspeitam do piriproxifeno

O piriproxifeno é uma introdução relativamente nova ao meio ambiente brasileiro; o aumento da microcefalia é um fenômeno relativamente novo. O larvicida parece, portanto, um fator causativo plausível na microcefalia – muito mais do que mosquitos geneticamente modificados, os quais alguns têm culpado pela epidemia do zika e, consequentemente, pelos defeitos de nascimento.
O relatório do PCST, que também aborda a epidemia da febre da dengue no Brasil, concorda com os achados de um outro relatório sobre o surto do zika, este produzido por médicos brasileiros e pela organização de pesquisadores em saúde, Abrasco.
A Abrasco igualmente identifica o piriproxifeno como uma causa possível da microcefalia. Ela condena a estratégia do controle químico dos mosquitos portadores do zika, o que, dizem, está contaminando o meio ambiente bem como as pessoas e não está diminuindo o número de mosquitos.
Em vez disso, a Abrasco sugere que essa estratégia está, na realidade, orientada por interesses comerciais da indústria química, que, dizem, encontra-se profundamente inserida nos ministérios de Saúde latino-americanos, bem como na Organização Mundial da Saúde e na Organização Pan-Americana de Saúde.
A Abrasco identifica a empresa inglesa de insetos geneticamente modificados Oxitec como parte de um lobby corporativo que tem distorcido os fatos sobre o vírus da zika a fim de atender os seus próprios interesses. A Oxitec vende mosquitos geneticamente modificados para a esterilidade e os coloca no mercado como um produto de combate à doença – estratégia condenada pelos médicos argentinos como um “fracasso total, exceto para a empresa que fornece os mosquitos”.
Tanto os médicos brasileiros e argentinos quanto as associações de pesquisadores concordam que a pobreza é um fator-chave que está sendo negligenciado na epidemia em curso. A Abrasco condenou o governo brasileiro por sua “ocultação deliberada” das causas econômicas e sociais: “Na Argentina e em todo o continente, as populações mais pobres com menos acesso ao saneamento e à água potável sofrem mais com este surto epidêmico”. A PCST concorda, afirmando: “A base do progresso da doença encontra-se na desigualdade e na pobreza”.
A Abrasco acrescenta que a doença está estreitamente ligada à degradação ambiental: inundações causadas pelo desmatamento e o uso massivo de herbicidas em plantações de soja (geneticamente modificadas) tolerantes a herbicida. Em suma, “os impactos de indústrias extrativas”.
A noção de que a degradação ambiental pode ser um fator na difusão do zika encontra sustentação na visão de Dino Martins, Ph.D. Martins, que é entomologista queniano, diz que “a explosão dos mosquitos em áreas urbanas, que está levando adiante a crise do vírus da zika” é causada por uma “falta de diversidade natural que, do contrário, manteria as populações de mosquito sob controle e também pela proliferação de resíduos e a falta de locais para o despejo em algumas áreas que fornecem um habitat artificial para os mosquitos se reproduzirem”.


Ações de base comunitária

Os médicos argentinos acreditam que a melhor defesa contra o zika são “ações de base comunitária”. Um exemplo de tais ações acontece em El Salvador.
Um dos locais favoritos para a reprodução dos mosquitos portadores da doença são contêineres de armazenamento de água parada, ou caixas d’água. Os salvadorenhos começaram a manter peixes nesses ambientes; os peixes comem a larva do mosquito. Assim, a dengue se foi juntamente com o mosquito que transmite a doença. Até agora, não há nenhum caso de infecção do vírus da zika.
Programas simples porém eficazes como esse correm o perigo de serem negligenciados no Brasil em favor de programas de pulverização de pesticidas e da soltura de mosquitos geneticamente modificados, iniciativas apoiadas por empresas. A prática de pulverização ainda não foi comprovada, e os mosquitos geneticamente modificados podem estar causando prejuízos muito mais graves do que os mosquitos que estão sendo visados.
 

A vida no telescópio

Sempre ouvi que os bons cronistas põem a vida/a sociedade/o mundo no microscópio. Como não integro este bando, fico de cá, olhando tudo pelo telescópio e garantindo distâncias saudáveis.

Lendo sobre os hábitos criados pela feicibuquização da vida. Citam-se as compulsões por comparação, controle da vida alheia, crítica permanente e outros no mesmo estilo. Fala-se sobre esse “novo” perfil comportamental. Novo pra quem? Quem viveu a infância nos anos 70 conheceu a mesmíssima situação, no tempo em que o fêici era tudo mato. A gente conhecia isso como minha mãe. Oras.

Abelhas gourmet perseguindo Consorte pela casa, atrás de um french touch, de uma nouvelle cuisine. Pobre Manézix.


Jair Henrique costumava dizer que tirava o cérebro e punha de lado pra assistir ao Super Bonita, do canal GNT. Dia desses, dando bobeira, olhei um dos episódios, já quase no final. Ivete Sangalo entrevistava Maria Ribeiro. Momentos marcantes: Ivete conta que cortou a franja do filho, ficou torta e mal cortada, “mas era dia do índio na escola, então, tudo bem”... *risadas em uníssono*. Maria Ribeiro explica que come diuntudo, nada faz pela aparência e que deveria ter força de vontade, fazer exercícios: “se pelo menos eu tivesse uma osteoporosezinha, né, teria um motivo pra ter que me exercitar!”. *risadas em uníssono*. eu:


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Proibindo Hitler


Entre um Aedes aegypti, um crime ambiental de mineradora e a violência policial benzida pelo Estado, é a republicação de um livro que tem esquentado a virtuália.

Juízes, juízas, abaixo-assinados e muita gente querendo aparecer garantem o puxa-e-afrouxa, pedindo a proibição do livro Minha Luta, a retirada de exemplares da vitrine, capas “mais sóbrias”. A imprensona, claro, a postos, garantindo clics e comentários naquele banho-maria de lugares-comuníssimos e ideias de pé quebrado.

Detesto teorias da conspiração, mas que tudo isso parece campanha de marketing, ah, parece. Mas participariam nossos juízes da farsa? HAHAHA! E se a resposta for negativa, é tão ruim quanto, pois assinala que estão acreditando, pondo fé nas decisões que impõem.

Bom, há sempre a hipótese das pessoas com uma necessidade patológica de atenção, que ultrapassa interesses comerciais ou o fetiche legalista. Seja como for, o FEBEAPÁ da semana garante canecos pra todo mundo, incluindo historiadores inteligentes; um deles referiu-se à falta de veracidade, de valor filosófico e histórico do texto

Se isso for argumento, bora proibir o texto do Demétrio Magnoli, que afirma que cotas são discriminação reversa? Ou Brasil sempre, que explica ser necessário torturar para combater a ameaça vermelha que ceifa a vida de homens de bem? Sem contar o valor filosófico de livros como O monge e o executivo, O segredo, Saúde Emocional e |____________| (insira aqui a sua bobajada preferida), não é mesmo?

Outro caneco vai para os que sublinham o perigo de uma possível legião de neo-nazistas que surgiria logo após a leitura do livro. Francamente, acho que seria espantoso o fato de simpatizantes do nazismo folhearem um livro e entenderem frases mais complexas. Pois mesmo que Mein Kampf seja uma montoeira de chavões toscos, amálgamas estúpidos e violência disfarçada de iluminação política, mesmo assim, é necessário conseguir ler parágrafos com mais de uma linha. E eles são vários e são muito chatos. 

Mas essa moçada da toga e das assinaturas tá sabendo que o texto circula livremente e é facilmente acessível desde sempre? Alguém tem que ir lá avisar e explicar que, mesmo antes da Internet, havia uma tecnologia chamada fotocópia; também permitia a divulgação e a disseminação de uma pá de escritos, uma loucura! 

Há o revoltadão-online, como sempre achando que isso é coisa de esquerdopata, do PT e das feministas, que parabeniza o chanceler alemão pelo conjunto da obra e se pergunta por que não proíbem também O Capital, num verdadeiro espetáculo de raciocínio e erudição.

Tem a turma que pede “capas discretas”, pois imagens do Führer & suásticas serviriam como promoção do nazismo, do antissemitismo e blábláblá. History Channel tá com os dias contados, então?

Consigo entender que a aversão a determinadas ideias asquerosas possa provocar a vontade de banimento delas. Logo que eu comecei a usar a internétchi no século passado, participei de um daqueles abaixo-assinados inócuos que ficavam circulando por email -- o dito cujo pedia que uma editora gaúcha de textos nazistas não tivesse o mesmo espaço que outras editoras numa feira de livros nem lembro onde. Mas ideias não se banem. Elas podem ser combatidas, discutidas, questionadas, e pra isso, é preciso entendê-las, não tentar apagá-las.

Tem quem diga que as pessoas não sabem discernir, que tem muito professor burro, que tem oportunistas panfletários, que a imprensa não ajuda, que a maria-mole rosa já não é a mesma. Sim, tudo isso é verdade. Mas a proibição de um livro é que vai solucionar tudo isso, magicamente?

Também vão aparecer as citações a Fahrenheit 451, infelizmente não as melhores, e muitas com base no “ouvi dizer” ou “vi o filme”, que deixa a desejar. Pois uma das coisas geniais do livro é a explicação que dá o Capitão Beatty sobre como se chegou à proibição dos livros: as pessoas começaram a solicitá-la, depois se habituaram. De bom grado substituíram a leitura pela distração, pelas “telas múltiplas”, pela informação desnecessária e contínua, pela publicidade, pelo consumo. Tudo isso passou a dar uma sensação de movimento, sem que ele existisse. Era mais confortável e mais seguro. Não houve um golpe autoritário bem marcado, houve uma outorga das pessoas aos governantes e juízes, pois desejaram suprimir o que fosse contraditório, complexo, inquietante, ofensivo. 



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Lembranças nebulosas dos anos 70...

Conversando com minha irmã Izabel, que me pergunta se eu lembrava da dra. Marlene, nossa dentista quando éramos crianças (eu, uns 7 anos; minha irmã, 5). E eu lembrava. Dela, de alguns detalhes do consultório, numa casa antiga, grandes portas que dobravam, chão de madeira. 

Naquela sala de espera, folheei muita revista Manchete, Fatos & Fotos e coisas parecidas. Lembro de ter lido uma entrevista com a Rita Lee; havia uma descrição de sua prisão, por conta de “baganas de maconha”, “tóxico” e outras coisas das quais o significado me escapava. A matéria parecia longa, nebulosa, muito além do que a minha capacidade permitia entender.

Esses elementos todos compunham uma memória bem viva, faziam sentido na minha cabeça. Até minha irmã dizer que a única coisa nítida na lembrança dela era a fisionomia da dentista. Para ela, dra. Marlene era assim:


E aí que meu mundo caiu, né?! Pois nem nas minhas conexões neuronais mais distorcidas eu encontro alguém que pudesse se parecer com a Farrah Fawcett naquele tempo... Como assim? 

As pessoas que eu conheço em geral acham que eu tenho boa memória. Ao que eu sempre respondo que isso é característica da minha irmã, sem discussão.

Por isso, fiquei com uma sensação de ter caído num limbo, pois pra mim, nossa dentista era assim...

... praticamente uma sósia da Shelley Duvall (The shining, Annie Hall)... 


 Tá. Eu fui uma criança míope, muito míope mesmo. 
Mas isso já é ridículo!




terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Juiz Moro – chamem os Mythbusters!

Moçada “de bem”, famílias com-deus-pela-liberdade-e-a-volta-do-Festa-Baile-na-TV, o povo que “parabeniza” online em espaço de comentários, que compartilha frase de Chico Xavier enquanto aplaude a polícia militar e tenta negociar uma boquinha para o filho – tava todo mundo meio sem herói, afinal, Joaquim Barbosa não se candidatou a rei nem a chefe da Liga da Justiça.

Mas agora, tudo mudou! A revista Americas Quarterly criou esta capa e muito frisson entre os leitores da revista Veja e alguns colunistas da Fôulha (Estadão, O Globo, Gazeta do Povo, Diário Catarinense etc. etc. etc. ...).

Tá?! A Folha frisa: “revista dos EUA põe juiz Moro entre os 'caça-corruptos' da América Latina”. Dos EUA, vejam bem! Óóóóhhhhhhh! O fundador da revista, Christopher Sabatini, profe na Universidade de Columbia, colabora com o Instituto Millenium – aquele que tem como estrela FHC (ele mesmo integrante do conselho editorial da tal revista), que conta com Henrique Meirelles, Hélio Beltrão, Gustavo Franco, Rodrigo Constantino e grande elenco como “fundadores e curadores”, que tem como mantededores Jorge Gerdau, Nelson Sirotsky (presidente da RBS), João Roberto Marinho, Ricardo Diniz e por aí vai. 

Bem, cada um se filia às ideias que quiser, cada um tem o direito de defender suas verdades, de se agrupar como e com quem desejar. Até aí, joia. O problema aparece quando essas ligações deixam de ser explicitadas, dando a impressão que não se relacionam. Assim, criam-se e transmitem-se imagens como a do juiz Sergio Moro sendo o paladino da probidade, independente, apartidário, limpo, guiado apenas por seu amor à lisura, à justiça e à toalhinha de crochê sob o vaso de violetas.

Seja como for, a rede de criação, transmissão e fixação de determinadas imagens e desinformação está posta e trabalhando. Dia a dia, martelando, dando a impressão de divulgação pura e simples de fatos, só isso. Tem quem engula...

Lembrando, juiz Moro é este aqui, chapa do João Dória Jr.:




E o João Dória? É este, todo trabalhado no mundo empresarial – “não sou político, sou administrador e rico” –, atualmente, cheio dos brios, chamando na chincha seus adversários, dando uma de engraçadão, mostrando que é cu-e-calça com o juiz Moro e fazendo a alegria do revoltadão on line (que afirma “este me representa! Quero parabenizar o empresário João Dória blablablá”):
 

MAS... vai daí que ele é o mesmo sujeito que:
  
Pôxa... não tá ornando muito com toda aquela honestidade pela qual dobram os sinos e gralha a direita-miojão, né? Além do que, tá estragando aquela capa tão gringa e tão ryka com o amigão Moro! Justo agora que a gente tinha um juiz pra chamar de nosso!

Então, juiz Moro caçador de corruptos, amigão da honestidade e apartidário?





Estudantes de Goiás no reino do jornalismo chapa-branca

Com 13 a 16 anos, os estudantes secundaristas de Goiás se mobilizam contra o plano do governo estadual para a escola pública – leia-se entregá-la à administração privada e à Polícia Militar. Houve caminhadas, manifestações e ocupações das escolas; quer dizer, quando são ignorados sobre decisões fundamentais para suas vidas, os cidadãos buscam outras formas de expressar suas opiniões, a necessidade de serem envolvidos no processos decisórios e a lista é longa.

Mas as pessoas continuam descobrindo que suas opiniões não contam se não forem precedidas por muito dinheiro, corroboradas por atravessadores de políticas públicas, funcionalismo pau-mandado, oportunistas e parasitas de toda ordem. Se as opiniões buscam mudanças e indicam clareza sobre o mundo, nesse caso, o pau come. Cacetete, desculpas oficiais e enrolações burocráticas serão a resposta. E mais cacetete, pra deixar claro que quando o protesto conta realmente, a proibição é regra, assim como a punição aos participantes.

A imprensa de releases constrói a narrativa da baderna e da violência, e estamos conversados. Assunto encerrado, não existe mais.
 
 Matéria completa e vídeos