domingo, 27 de maio de 2018

Brasil em pane é o retrato do governo Temer (L. Sakamoto)



Cada vez que o governo federal vem a público para dizer que a greve é uma orquestração de donos de transportadora, como fez Carlos Marun, ministro-chefe da Secretaria de Governo, mais os caminhoneiros autônomos ficam com raiva de Michel Temer. E o governo parece que gosta de dizer isso, num ato contínuo de sadomasoquismo político. 

A incapacidade desse governo em entender a complexidade da situação ajudou a criar algo que possa já estar além do seu controle. Como venho dizendo neste blog, há uma insatisfação legítima de um grupo profissional que viu não apenas sua renda ser corroída pelos constantes aumentos no preços dos combustíveis, mas também a vida transformada em caos devido à imprevisibilidade de quando ocorrem os repasses. Claro que empresas de frete parasitam o movimento em nome de seus interesses e devem ser punidas. Mas esse não é, nem de perto, o cerne da questão. E a partir do momento em que uma grande parte da categoria não se vê representada pelo acordo firmado com o Palácio do Planalto e segue parada, a ficha do governo deveria ter caído. Nessa hora, contudo, o presidente chama a "mãe" - o Exército - para adotar a força no lugar do diálogo, deturpando a função constitucional dessa instituição. 

Temer e seu grupo político do MDB chegaram ao poder com a benção de grandes empresas e do mercado, de um lado, e da velha política, de outro. Ao primeiro grupo, prometeu tirar o país da crise sem jogar a conta da conta dos mais ricos e aplicar reformas liberalizantes que reduziriam o tamanho do crescente Estado de bem-estar social em prol do PIB. Ao segundo, prometeu sobrevivência diante da Lava Jato e um governo-amigo que mudaria proteções sociais e ambientais para facilitar a vida de seus representados, fazendo com que voltássemos 20 anos em dois. 

A reação do governo Temer diante da greve dos caminhoneiros deve ser entendida no contexto da política que ele adotou em seu governo: pró-mercado, fiscalista e de restrição da proteção social. Analistas não entendem por que a população não acredita que o país melhorou, uma vez que os indicadores econômicos provariam isso. O povo, contudo, não "come" indicadores econômicos e o desemprego segue forte. O governo agravou a instabilidade social e, dois anos após seu início, o Brasil parou pela falta de combustível na bomba. A verdade é que a agenda do mercado, abraçada por Temer, é tosca e sem sutiliza para lidar com a política. Talvez por isso parte dele morra de amores por um candidato à Presidência tosco e sem sutileza. 

Não importa o que aconteça daqui em diante, fica uma lição: chamar algo por outro nome não muda a sua natureza. Shakespeare já dizia isso há 500 anos, mas parece que nossa elite política e econômica passou todo esse tempo lendo outra coisa.

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