segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Nada mais reacionário que um liberal brasileiro



A falsa defesa da liberdade por liberais 

Gustavo Freire Barbosa

Machado de Assis, em Esaú e Jacó, narra o caso de Custódio e suas incertezas envolvendo a transição da monarquia para a república no Brasil. Proprietário da Confeitaria do Império, mal terminara de encomendar uma nova tabuleta para o seu tradicional comércio quando soube do fim da dinastia imperial. O bilhete enviado para que o pintor interrompesse o trabalho não chegou a tempo, deixando Custódio numa situação bastante desconfortável ante a república que se iniciava.

Procurou, assim, o Conselheiro Aires, que sugeriu que o nome passasse a ser “Confeitaria da República”. O medo de uma nova reviravolta, porém, o fez discordar da ideia. O Conselheiro sugeriu o nome “Confeitaria do Governo”, mas o receio de que a oposição quebrasse a tabuleta o fez também abandonar a sugestão. Aires então opinou que deixasse o título original – “Confeitaria do Império” -, acrescentando os dizeres “fundada em 1860”.

Entretanto, nas impressões do confeiteiro, esta inscrição daria ao estabelecimento um ar de antiguidade que não correspondia com o despontar da modernidade da época. Decidiu-se por fim pelo próprio nome do dono: “Confeitaria do Custódio”. Afinal, “as revoluções trazem sempre despesas”.

Em relação à dicotomia formada por liberais republicanos e conservadores monarquistas, Machado de Assis concluiu que “nada mais conservador que um liberal no poder”. A recorrente postura dos que costumam se autoproclamar liberais em tempos de Trump, Dória, crises migratórias, PEC 55 e patos da FIESP evidencia como, na verdade, não passam de conservadores antiliberais que trocam as mãos pelos pés na hora de defenderem suas ideias ou mesmo no momento em que se omitem quanto a violações de direitos dos quais adoram se colocar como fiadores.

Vejamos o exemplo do agroboy escravocrataRonaldo Caiado, que quis implantar uma CPI contra a escola de samba Imperatriz Leopoldinense por ter feito críticas ao agronegócio em seu samba-enredo. Caiado é um sujeito que gosta de se colocar como liberal tanto na tribuna do Senado como em suas entrevistas, a exemplo da que deu ao Roda Viva em 2015.

Um liberal autêntico, todavia, jamais proporia tamanha sandice. Ainda: denunciaria na mesma hora a tentativa esgarniçada do senador goiano contra a liberdade de expressão, o mais clássico, incontroverso, unânime e paradigmático de todos os direitos iluministas. Afinal, ainda que se discorde do teor do samba-enredo e se alimentem simpatias com o ruralismo udenista e com a dinâmica agroextrativista exportadora baseada no latifúndio, não é isto que está em questão, mas o direito de criticá-los nos moldes daquela conhecida frase atribuída a Voltaire segundo a qual posso discordar de tudo o que diz, mas farei de tudo para que possa dizê-lo.

No entanto, conforme explicouJoão Paulo Cuenca, como nossos liberais de hoje na verdade não passam de uma patota de neoconservadores tapados, dogmáticos e patrimonialistas, jamais veremos coletivos como MBL, Vem Pra Rua Brasil, Spotniks, ILISP – Instituto Liberal de São Paulo – e demais clubinhos de confederados pós-modernos levantarem um dedo contra o “liberal” Caiado. O jurássico MBL, a propósito, não passa de um PMDB de terno e tênis.

Somem-se os arroubos intempestivos de Caiado ao episódio em que a apresentadora Fabélia Oliveira, da Record de Goiás, sugeriu que indígenas morressem de tétano e malária e pronto: temos a mais perfeita radiografia da noção de liberdade e autonomia para esse pessoal, profundamente entranhada e limitada às relações e códigos sociais característicos da troca mercantil – no caso, na liberdade de pilhar os recursos naturais das populações indígenas e ribeirinhas, matando suas lideranças, espoliando paisagens e extrapolando o uso de ecossistemas inteiros muitas vezes sob o multiuso verbete da “geraçãodeempregoerrenda”.

E o livre florescimento das aptidões vocacionais conforme seus próprios desígnios? Só se for para “empreender”, “contratar”, “comprar” e “vender” – incluindo a força de trabalho -, de maneira que qualquer liberdade fora dessa dinâmica passa a ser ignorada e desconsiderada – e até combatida – a ponto de surtos despóticos como o do senador Caiado serem convenientemente tolerados logo por quem gosta de pagar de defensor da liberdade no Facebook.

Quando a noção de liberdade é confundida e condicionada à perspectiva de ser e fazer o que quiser desde que de acordo com o catálogo provindo das condições materiais predispostas unívoca e arbitrariamente pela narrativa do mercado, esta liberdade passa a não envolver, na prática, o livre fluxo de pessoas, opiniões, pensamentos e expressões culturais e religiosas.

Vejam-se as medidas anti-imigração adotadas pela União Europeia e o muro que Donald Trump pretende construir na já militarizada fronteira entre os EUA e o México (país que em 1848 teve metade de seu território usurpado pelo seu vizinho do norte sob a crença de que seu povo fora eleito por Deus para civilizar a América).

Entre os 15 decretos assinados só na semana passada, há o que impõe severos limites à entrada de muçulmanos em território norte-americano, discriminando não apenas religiões e segmentos étnicos, mas penalizando os refugiados sírios que tentam fugir dos bombardeios de drones oriundos dos próprios EUA. Um liberal de verdade consideraria esta série de iniciativas um inaceitável achaque à liberdade; um conservador, no mínimo, se omitiria por não ver nelas maiores problemas.

A legítima liberdade começa quando e onde a necessidade acaba. Dificilmente um sistema político e econômico fundado na escassez seletiva, na acumulação desregrada, no excedente de trabalho, nas necessidades não satisfeitas e na pré-fabricação de consumidores nos franquearia acesso a uma genuína liberdade por meio da qual o desenvolvimento individual de todos e todas se torna verdadeiramente possível. Mas teríamos um bom começo se os próprios liberais percebessem que, se nem eles levam a sério as próprias ideias que defendem, quanto mais os conservadores que gostam de se travestir de paladinos da liberdade.
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eike Batista e o Brasil que goza com a riqueza dos outros

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Há seis anos, quando um brasileiro figurou entre os oito mais ricos do mundo, segundo a relação da revista Forbes, muita gente comemorou por aqui. Dois anos mais tarde, quando ele chegou ao sétimo lugar, transformou-se em exemplo a ser seguido e orgulho nacional nas redes sociais.
Não consigo entender a mania de sentir prazer com a fortuna alheia e, do alto do orgasmo de cifras, fechar os olhinhos para os impactos, a ética ou natureza dos negócios alheios.
Se ainda fosse a família do empresário, seu parceiro no tênis, seu poodle, acionistas de suas empresas, políticos que receberam doações de campanha, enfim, quem se beneficiava diretamente com isso, vá lá. Mas, por Deus-Nossa-Senhora-Jesus-Maria-José, que tipo de sentimento de transferência faz outra pessoa festejar o fato de um compatriota aparecer entre os mais endinheirados do planeta?
Há quem tenha ficado rico com informação privilegiada obtida em órgão público pela família. E há quem tenha ficado rico comprando empresas e demitindo trabalhadores. Ou superexplorando trabalhadores do setor de vestuário. Pode se discutir a legalidade ou moralidade de processos. Mas ter juntado, em algum momento da vida, bilhões não deveria tornar alguém um modelo a ser seguido. Pelo contrário, impérios de mineração que se transformam em pó em pouco tempo ou trabalho escravo encontrado na produção de roupas são exemplos de que dinheiro vistoso não significa sustentabilidade ou ética.
Cinco anos e uma derrocada depois, Eike Batista teve ordem de prisão decretada por corrupção como desdobramento da Operação Lava Jato e é considerado foragido internacional. E muitos dos que tiraram fotos ao seu lado, das mais diferentes colorações partidárias e ideológicas, tremem diante da possibilidade dele ser preso e dar com a língua nos dentes. Devem estar apagando as postagens em que aparecem como BFF do agora procurado nas redes sociais.
Mas vamos permanecer na questão do fascínio que a concentração de riqueza causa por aqui. Uma inversão de valores estranha, igual àquelas patologias de comemorar o brasileiro que tem o maior veleiro, a maior coleção de diamantes, a maior casa, enfim, gozar com o alheio.
Deveríamos comemorar, na verdade, a redução da miséria e da fome de forma consistente e não quando colocarmos mais bilionários em uma lista. Afinal de contas, a universalização do direito à dignidade deve ser objetivo comum da vida em sociedade.
Já geração de riqueza não vem acompanhada, necessariamente, de redução de desigualdade social e de garantia de oportunidades, ou seja, daquele quinhão básico de Justiça que todos deveriam ter o direito de acesso simplesmente por nascerem homens e mulheres iguais em dignidade. A gente continua fazendo o bolo crescer, mas não a dividi-lo na mesma velocidade.
Na última pesquisa sobre o tema do IBGE, de 2014, o Brasil contava com 7,2 milhões de pessoas sob grave insegurança alimentar. O número era de 11,2 milhões em 2009. Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e todo o pacote de ações públicas que vieram com eles, além da geração de empregos no período, merecem crédito. Mas esse processo ainda está lento demais e, claramente, não é consistente ou sustentável.
Até porque o problema da fome no Brasil não é de falta de algo e sim de distribuição. Há riqueza para todo mundo, a questão é distribuí-la. A taxação de lucros e dividendos de empresas, de grandes fortunas, de grandes heranças, uma alteração decente da tabela do Imposto de Renda (cobrando de quem tem e isentando a maior parte da classe média), a taxação de dividendos recebidos por pessoas físicas de empresas e a redução do teto da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário são ações no sentido de desconcentrar renda são exemplos de ações.
Neste ano, o patrimônio somado de oito bilionários é equivalente à riqueza conjunta dos 3,6 bilhões mais pobres do planeta, ou seja, metade do mundo, de acordo com estudo da Oxfam divulgado por ocasião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Em 2010, eram 388 bilionários possuindo o mesmo que a metade mais pobre. A concentração foi aumentando ao longo dos anos até agora. E a tendência, segundo a organização, é piorar.
O trabalho está participando da divisão dos ganhos na mesma proporção que o capital?
Quanto desse concentração econômica não é feita de forma irresponsável, causando impactos em cima de populações que se tornam mais miseráveis?
O problema não é ter dinheiro, mas a imensa desigualdade de Justiça e de oportunidades. Como sempre digo, a vergonha não é alguém ter um apartamento de 400 metros quadrados enquanto outro mora em um de 40. O que desconcerta é uma sociedade que acha normal um ter condições para desfrutar de um apê de 4 mil metros quadrados enquanto o outro apanha da polícia para manter seu barraco em uma ocupação de terreno, seja em Itaquera, Grajaú, Osasco, Pinheirinho, Eldorados dos Carajás, onde for.
Há mais champanhe circulando por aí, mas a maioria segue não conseguindo comprar nem água com gás.
Garantir que todos tenham acesso às mesmas oportunidades e ao mesmo quinhão de Justiça. Para isso, nossa geração terá que ter a coragem de demolir estruturas arraigadas desde a fundação do país, que garantem que uns tenham muito e outros nada.
O que passa, inevitavelmente, pela dessacralização da concentração de riqueza. Isso é simbólico dos valores que queremos que guiem nossa vida comum e, portanto, estruturante de nós mesmos e fundamental para que tenhamos um futuro.
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Um esgoto chamado “imprensa brasileira”

Foto de desastre, já se sabe, vende que nem pão quente. O patrocinador corre para ter seu anúncio vinculado às fotos de catástrofe. Você nem percebe, mas já deu um clique para determinada marca. Agora, se houver qualquer coisa que lembre um pornô tiozão e eventuais “gostosas” disponíveis para que cuecas se satisfaçam, melhor ainda!

Para isso, entra-se na página de uma das vítimas do acidente e selecionam-se fotos para que o povo se esbalde. Disfarça-se essa nojeira marqueteira com uma suposta “descrição neutra” e aguardam-se os cliques, os comentários, a polêmica sobre nada. Qualquer reação contrária será taxada de “ataque à liberdade de imprensa”. E calem a boca. Importante é expor mulheres para assanhar acéfalos e vender.



Servicinho de 5ª categoria da Folha de S. Paulo, assinado por Eliana Trindade.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

É trágico, mas acima de tudo, é nóis!!!

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Se acaso não souber, resto do Brasil e do mundo, estamos falando de alguém nascido em solo catarinense, ok? O ocorrido é triste? É. Mas mais importante é nos aproximarmos desse protagonismo todo, oras... Políticos locais, o Diário Catarinense e todos os que acreditam que, de alguma forma, “os olhos do Brasil se voltam para Santa Catarina”, nos transformando em subcelebridades cívicas. Tá?!

 🙈


Em tempo: quando “o catarinense” D. Paulo Evaristo Arns faleceu em dezembro, o DC soltou uma notinha muito da chocha, chapa branca, como quem tira um esparadrapo, bem-rápido-tomara-que-esqueçam. Sequer citaram que o religioso nascera em Forquilhinha (ao contrário, quando sua irmã Zilda Arns faleceu, foi a primeira coisa da qual lembraram). Afinal, quem era D. Evaristo Arns na fila do pão, não é mesmoam? Parece que houve receio de associar os catarinenses ao “cardeal vermelho”... Jornalismo de primeira |SQN|



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Mãos ao alto, este país é um assalto!

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Ainda não acreditando que o presidente do Bradesco – um dos 4 bancos que abocanham 72% dos ativos das instituições financeiras comerciais do país – se chama Trabuco... E que, claro, tá feito pinto no lixo em meio à bandidagem que atende pelo nome de “governo”.











Fico aqui de olho no que corre por aí. Entre um noticiário do inferno e outro, as pessoas (com razão) desejando que um ano melhor comece e etc e tal. Bom, como não existe ano que entra, se encerra e sai, como se uma meta fosse cumprida, a gente fica desejando uma fase melhor. Sabendo que há outras gentes para as quais não existe fase melhor – estão na miséria, em região de conflito, em condições de trabalho escravo, humilhação, opressão...

E práticas como essa, aí na postagem abaixo, de gente sendo assassinada ao tentar proteger outras, vêm colaborar nessa soma do inferno – morreu porque defendeu duas trans; morreu porque era feminista; morreu porque era de esquerda... 

Mais do que necessário é pensar a respeito, admitir os próprios preconceitos, não aceitar mais o que apresentam como natural, normal, sempre foi assim, deixa de frescura. Um dos sites que gosto de ler atualmente é o Justificando, que traz discussões, textos e vídeos muito bons sobre a situação social e política do país, a partir de um viés jurídico sério, inteligente, bem longe das presepadas de educação moral e cívica que querem dominar esse debate no país. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Infância traumatizada... ata...

Lendo artigo no El País sobre filmes dirigidos a crianças, mas que escorregam em vários momentos – segundo o autor – por conta de cenas violentas, angustiantes e etc.

Na lista do moço, Família Addams, Matilda, Esqueceram de mim, Beetlejuice, os fantasmas se divertem. Haveria neles “um roubo de inocência”, explicado pelo autor do artigo como “filmes com relatos em que as crianças estavam sob constante risco de morte. Eram histórias disfarçadas de piñatas festivas, mas que muitas vezes escondiam relatos que beiravam o terror”. Ah. 

Vou atrás da ficha do jornalista/crítico. Não encontro dados etários, porém, sua foto me revela vivente nascido nos anos 80. Ok. Tento não cair na esparrela do riso fácil contra gerações posteriores à minha, do escárnio aos medos alheios, da esfregação do “você não conhece nada” em rostos sem rugas. Fosse eu o poeta Gonzaga, lindos versos eu faria. Mas não, sou a velha/chata/misantropa de plantão, cujo caráter foi formado pela TV, por leituras impróprias, adultos sem noção, sofrência infantil causada por bullying (que atendia por outro nome ou nem atendia) e por aí vai.

Modos que momentos de roubo da inocência eram básicos. Não tô falando do Hering Rasti, com o qual nunca consegui produzir maravilhas que vinham estampadas em seu manual de instruções, como carrinhos de fórmula 1 ou moinhos de vento (certeza de que foram engenheiros que montaram aquela bosta toda). O máximo que eu conseguia eram prédios de apartamentos futuristas, que desabavam uma vez que eu terminava a cobertura... Também não tô falando do desastre que era a hora do lanche. Nada disso.

Tô falando do trauma de raiz, do estrago permanente, dos problemas cognitivos que o audiovisual dirigido às crianças nos anos 70 e 80 causaram. Beleza, a nossa Xuxa foi a Sônia Braga no Vila Sésamo; a gente tinha a maravilhosa Paula Saldanha e o Sítio do Pica Pau Amarelo. Mas isso não apagou uma geração de errados, emocionalmente bugados pela Sessão da Tarde. Sério, prezado colunista do El País, aquilo não era para fracos, e seja como for, você não tinha escolha.

Há vários exemplos, como a leva de filmes ingleses dos anos 60, num visual psicodelia & revolução industrial: o da pequena lontra adotada por um sujeito, que se torna amiguinha de um cachorro. Quando seu coração já estava repleto de amor aos animais, aos semelhantes e a um filme inglês de 1969, paf! A pequena lontra é morta com um golpe de picareta por um sujeito ruim da porra. É... Ou a saga de um menino e uma menina que fogem de um padrasto abusivo, tentando chegar à Irlanda. No caminho, precisam sobreviver às tentativas de assassinato de um tio que se disfarça de tudo, mas que sempre é reconhecido por ter um falcão tatuado no pulso. Tinha o lacrimal David Copperfield, uma *alegria* só... Ao mestre com carinho, no qual Sidney Poitier tenta civilizar uma turma bizarra de alunos de alguma quebrada pobre londrina – ensina as meninas a se darem o respeito, cas contrário, ninguém vai querer casar com elas... af!

Dos EUA vinham, entre outros, os malfadados filmes de superação ou “baseados em uma história real”, como o da moça que morre de câncer aos 20 anos e tem trilha sonora do John Denver (com este, aprendi a frase “mães ordeiras criam filhas neuróticas”); o da patinadora que perde a visão; do fugitivo que se esconde numa colônia de crianças cegas; ou o da adolescente que assume uma penca de irmãos depois que o pai viúvo morre, para que o serviço social não descubra que eles não têm mais nem pai nem mãe – ela queria ser escritora, mas têm que trabalhar na cantina da escola e etc e tal; todo trabalhado numa “promessa a Roy Luther” (o falecido pai, enterrado perto da casa de madeira que parece despencar, nos Apalaches).

E assim como o primeiro a Fantástica Fábrica de Chocolates, também tivemos O Leão e a Feiticeira, tirado das crônicas de Nárnia. Era um desenho animado com traços setentões, crianças com calças boca-de-sino, e que repetia, férias após férias, suas partes pavorosas – o caneco vai para o leão Aslan como prisioneiro da Feiticeira. Imaginário 2ª Guerra de raiz, com o leão amarrado, arrastado, tosado e torturado até a morte. Muita fofura e psicologia infantil...

Mas o vencedor da categoria era o bizarro, entre o camp e o gore, Os 5 mil dedos do Dr. T (meu amigo Cláudio se recusa a revê-lo, até hoje!). Sem exagero, inocência era coisa roubada a cada tarde, rapidamente substituída por angústia e sensação de abandono. E ainda tinha EMC na escola... Dá licença, né?