terça-feira, 28 de novembro de 2017

No fim do século XX...

 Texto de Anderson França


Profiteroles.
 Tem isso na tua cidade? Em 1998, profiteroles era o pão artesanal do momento.
Tu ia nesses restaurante metido a besta, eles serviam de sobremesa. Aí a classe média que já tinha conquistado um plano de saúde da Amil, o básico, sem direito a helicóptero, mas com direito a band-aid gourmet, essa turma comia medalhão de frango com bacon, arroz à piamontese e fechava com profiteroles.
Nossa, mano. Se tivesse internet ali, ia ser uma enxurrada de selfie de assistente administrativo e gerente de setor confraternizando o 13o juntos.
Os filhos da classe média tá do jeito que tá, porque foi alimentada com arroz à piamontese e profiteroles. E mistura disso na barriga gera um ácido graxo que altera a estrutura biomolecular da vergonha no meio da cara.
Na época, Rivotril era MESMO remédio controlado. Hoje, tu compra Rivotril na mesma estante do Mentos. Sipá, Mentos tem sabor Rivotril.
Quem comia profiteroles eram os entusiastas do Kiwi, que chegara ao Brasil alguns anos antes. E não ouviam Benito di Paula. Ouviam Jorge Vercillo. Eles só não sabiam que Jorge Vercillo era o novo Benito di Paula.
Eu gosto dos dois, frise-se.
Ouço Benito, fico grande, quero beber, começo a falar igual Jurandir, boto uma pulseira grossa de prata no braço, uma camisa de viscose, calça branca. Fico na janela olhando pros vizinhos, pra ver se eles tão me olhando. E bebo. Ahhhh, como eu amei. Se ouço Vercillo, fico tímido-choroso. Boto pijaminha, sento no cantinho do sofá e como um potinho de profiteroles.
Ocorre que essa classe média é a gênese da família brasileira de Curitiba. Tudo começou com o profiteroles. Não foi o Departamento de Estado Americano, foi o profiteroles, que é a fonte da discórdia. Antes, tinha o Pirarucu da Discórdia. Quem comia pirarucu era brasileiro pra caralho, agora é o inverso: é pra comer um troço menos brasileiro possível.

Pense, Sonia. Antigamente era José Wilker no set de gravação de Bye, Bye, Brasil, cheio de farinha nos lábios e pirarucu. Soca pirarucu. Cinema brasileiro. Cabelo pubiano alto. Muito palavrão. Áudio mal feito. Era o que dava, porra.
Depois, o profiteroles foi perdendo espaço para outros encostos. Veio o iogurte com topping. Bagulho era comer iogurte, tinha topping de cereja, de limão, de morango, topping de merda, topping de profiteroles, uma versão vintage.
E ladeira abaixo. Brizola tinha razão.
Profiteroles era coisa de Fernando Henrique.
Iogurte com vários toppings era Classe CDE. Brasil povo, Brasil Garanhuns, nunca antes. Aí veio o naked cake, e a putaria dava sinais que ia dar merda. E depois o Food Truck, o Barber Shop, e a reação da classe média foi definitiva com a dança contra a corrupção.
Seja patriota, vem lutar por tua nação.
Lembra?
Todo mundo ali come profiteroles. Os pais comiam. Tem fotos de família com profiteroles.
Cabou Benito, cabou Vercillo. Hoje é sertanejo. Um negócio meio iludido com casamento e amante. Meio rock, meio gospel, ruim por inteiro. Só tem branco comedor de profiteroles. Me processem.
Eu que achava Tião Carreiro raiz, hoje quem é raiz é Michel Teló. Tião Carreiro cê dava bom dia, ele largava um acorde de modão e cuspia na tua cara, e vinha o Rolando Boldrin mandando você comprar tijolo e cimento na Casa de Construção Nossa Senhora de Goiás. Hoje, sertanejo fica fazendo batida de funk no IPad, querendo ter experiências artísticas disruptivas, com uns corte de cabelo muito loko.
O Brasil tinha que ser que nem boate, tinha que ter vários ambientes. Eu ia pro Brasil vintage. Não tô dando conta desse aqui não. Essa galera que diz que encontrou as respostas, olha, eu preferia quando a gente só tinha perguntas, angústias e a Angela Rô Rô com cigarro na mão cantando Amor Meu Grande Amor, e a gente chorando no chão da cozinha bebendo Pitú.

Trilha sonora ilustrativa:

 Benito di Paula (Aaaaaaaaahhhhhhhh, como eu amei – presença certa em toca-fitas paternos) 😆


Ângela Rô-Rô (Amor, meu grande amor – fui no show, na Curitiba-profiteroles dos anos 90)💖😍


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

De ré na ponte para o futuro

E a quantas anda aquele projeto de 2015 chamado “ponte para o futuro”, último grito da modernidade político-administrativa, comparável ao carro de boi e à rinha de galo? Só a logo já me faz viajar 40 anos atrás, experiência por si só detestável. 



Pois vejamos:


😱


😱


😱 


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱


😱

É o Encilhamento reloaded, moçada!  Bora ouvir Ernesto Nazareth pra entrar na vibe!

|Brejeiro, composição de 1893|


👉Vale a leitura: Encilhamento 


Brasileiros & feminismo



Autoexplicativo