segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Mediocridade, má fé & condescendência: a imprensona nacional


O lixo que é a imprensona nacional comentando a situação da Bolívia como se fossem jornalistas suíços noticiando eventos culturais nos cantões do norte. Após explanações isentonas que nunca descrevem a realidade pura e dura, num tom insuportável de condescendência e passação de pano ao sistema, desfiam-se as preocupações com os investidores, a bolsa, a alta do dólar. Poses épicas e caras de conteúdo, de pulitzer. Se transmitissem imagens de bancadas e cadeiras vazias por horas, não faria diferença. Talvez houvesse mais qualidade...


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

CSI: Trambique

Vinte e três anos atrás, a gente via pela TV o legista Badan Palhares, famosão e tudo, comandando uma equipe que investigava as mortes do “tesoureiro de campanha” de Collor, PC Farias, e a de Suzana Marcolino. Palhares havia integrado a equipe de legistas que buscou identificar as ossadas de presos políticos assassinados pelos militares e também a equipe que identificou a ossada de Josef Mengele, o nazista que refugiado no Brasil. Quédizê, até botava-se fé naquele sujeito, barba grisalha, vasta cabeleira e olhos azuis.

Tudo bem que foi bem esquisita a transmissão pela TV, ao vivo, da ação do legista no exterior da casa em que PC foi morto. Fitas métricas, passadas largas, uma equipe enorme, moçada armada em torno da casa e enxames de jornalistas. O legista solicitava a participação destes, pedindo que atentassem a barulhos de disparos que ele faria no interior da casa. “Ouviram um ou dois?”. Os jornalistas colaboravam. Depois, Palhares entrava e saía da casa, olhava para cima, reaparecia na sacada.

Eu me perguntava se estaríamos entrando numa nova era de investigações policiais, nas quais a ciência forense traria luz sobre assassinatos comandados pelo Estado e queimas de arquivo, tão recorrentes neste país. Será que a coisa estava ficando séria mesmo?

Nãããããã... Dias depois, o laudo oficial apontou crime passional seguido de suicídio. Sabem como é, moça dinheirista com ciúmes do homem que pagava suas contas, só podia dar nisso, não é mesmo? Teve tio que comprou a ideia. Seja como for, muito barulho por nada, e o tal laudo é até hoje questionado, com fortes provas de que a perícia fora bem encomendada. Informações que não batem, objetos que desapareceram, dados desencontrados e equívocos grosseiros, conscientemente plantados.

Realmente, não havíamos entrado na era das investigações impecáveis, das revelações científicas que não deixam dúvida, dos laudos que apontam crimes vindos de cima, envolvendo autoridades, dinheiro, tráfico de influência...

Foi alarme falso. Como tantos outros no Brasil.

Nos intervalos publicitários entre as transmissões da pirotecnia forense, o astrólogo, tarólogo e estelionatólogo Walter Mercado nos convidava a ligar agora! Para nos certificar da eficiência do serviço, depoimentos de usuários cujas vidas melhoraram horrores depois do telefonema e de John Herbert, ator na época já veterano da TV (e da pornochanchada), que frisava a probidade dos “discípulos de Walter Mercado” – praticamente mereciam uma canonização junto com irmã Dulce, eu acho. Cadê Vaticano nessas horas, né?

Enfim, a última semana foi um déjà vu com gosto de ressaca.


📺Intervalo comercial em 1996, com chamadas para debates do tipo “eu separo sexo de amor” e “dou chinelada nos filhos”, para venda de vinis, K-7 e CDs que “vão mexer com você dos pés à cabeça” e, claro, para os extraordinários serviços de Walter Mercado, blond ambition esotérica.