quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Na esparrela da história

Minha amiga Val deu com os costados* por aqui dia desses. Entre todas as lembranças do tempo em que o planeta Terra era tudo mato, a sensação comum de incredulidade com algumas coisas: seguidores de Bolso, admiradores de Trump, cheer leaders de Le Pen, verde-amarelos em legiões paneleiras, saudosistas de torturadores nacionais e por aí vai a lista dos horrores. 

E aí, também lembramos de um texto estudado na facul, chamado Teses sobre a História, do alemão Walter Benjamin. Foi escrito em 1940, pouco antes do suicídio do filósofo, em sua fuga da Gestapo. Numa dessas teses, reflete sobre a ideia de que o tempo histórico seja uma linha homogênea, rumo ao progresso, ao aperfeiçoamento, à civilização perfeita, ao fim da barbárie. Abstração que está muito mais para a crença que para a constatação empírica. Benjamin refletia sobre essas coisas ao constatar a postura da esquerda tradicional alemã face a ascensão nazista – não iria muito longe, certo? Não seria possível que tudo entornasse em pesadelo; então, façamos acordos, negociemos. Afinal, somos ou não “civilizados”, guiados pela ideia de “progresso social” e “avanços”? 

Não, não somos.

No final das contas, eu e Val também constatamos algo: que não paramos de cair na mesma esparrela da década de 1940, aquela da qual aprendemos a desconfiar e duvidar nas aulas de teoria da história. Abstração que está muito mais para a crença que para a constatação empírica... Sempre bom lembrar. 

 * repertório Valdeliziano, que também conta com botar reparo, ôrra meu, embicar o carro, mais burra que a Scarlett O'Hara.