terça-feira, 10 de setembro de 2019

Que o cérebro funciona por associações, a gente já sabe. Algumas provocam sensações de solidão profunda, quando só uma criatura percebe a situação e o mundo em volta continua com a cara de “tá e daí?”. Conheci uma figura, aluna de um prof na universidade chamado Abelardo. Uma semana depois do início das aulas, aluna nova adentrou a sala; prof pediu o nome dela para o registro na lista: Heloísa. A figura conhecida minha abriu um sorriso ao perceber a situação entre o prof e a aluna nova e buscou outros sorrisos cúmplices entre seus colegas. Nada. Ninguém. Solidão total.

Vivi uma situação parecida. Havia um músico na orquestra sinfônica da minha terra que usava cabelos longos, tinha cavanhaque e bigode com pontas um pouco retorcidas (numa época em que hipster ainda era tudo mato). Como não sabia o nome do sujeito no início, me referia a ele como D'Artagnan. Certo dia, fomos apresentados. “Muito prazer, Aramis”, ele me disse. Foi a minha vez de procurar sem sucesso cúmplices no entorno.
Mas tem um tipo de associação que coloca o vivente nas chamas do vexame eterno. Por exemplo, marcando consulta com o oftalmologista. Há décadas, disco o mesmo número e falo com as mesma pessoa, chamada Lucélia. Só que as associações que meus neurônios produziram me fizeram chamá-la Isaura...



Na semana passada, deveria endereçar um email a uma pessoa chamada Flávia. Eu comecei escrevendo Bom dia, Kátia.



Tipo de coisa infame, ligada a contextos bem específicos e que, de passagem, denunciam a sua geração. E o problema não é a revelação da idade, é perceber que a referência não existe mais. equivale a ter que explicar piada ou fazer pesquisa arqueológica...

Máquinas no / do tempo

O phantom ride era um gênero bastante popular quando o cinema ainda era tudo mato. Filmava-se de um bonde, automóvel ou trem, registrando o movimento da rua e das estradas no percurso. Aqui, um phantom ride dos irmãos Miles em São Francisco (EUA), dias antes do terremoto que destruiu a cidade (abril de 1906).

Música Time is the Enemy, do inglês William Holland (DJ Quantic)/2001.


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