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“O 20 de novembro entrou para a história como o dia da morte de Zumbi dos Palmares. Considerado o maior líder daquele que foi o maior quilombo das Américas, Zumbi liderou centenas de homens e mulheres que se recusaram a viver sob um sistema escravista organizado pela pertença racial de sujeitos que, dentro da lógica colonial, deveriam estar dominados e subjugados por uma elite branca.
Deste modo, o que Zumbi e os demais palmarinos realizaram em mais de 100 anos (Palmares foi um quilombo que existiu por mais de um século), foi uma façanha e tanto.
Não só porque aqueles quilombolas se atreveram a fugir de seus proprietários e organizar uma resistência armada contra sua reescravização. Mas também porque os palmarinos (como tantos outros quilombolas) foram os construtores de uma complexa organização social, que estudos mais recentes têm comparado a alguns Estados africanos do século 18.
Dito de outra forma: Palmares teve a ousadia de resistir, mas também de propor uma nova forma de vida, centrada em experiências sociais e políticas que não tinham a Europa como modelo, e que se recusava a ceder à exploração sistêmica dos trabalhadores escravizados.
E talvez essa seja uma das maiores belezas em fazer do assassinato de Zumbi o Dia da Consciência Negra no Brasil – que, desde 2023, finalmente se tornou feriado nacional. Lembrar o caráter propositivo que a consciência negra teve e tem ao longo da história brasileira, sobretudo no que diz respeito ao trabalho.
Exemplos não faltam.
Outras revoltas
Em 1789, quase 100 anos depois da morte de Zumbi e do desmantelamento de Palmares, um grupo de escravizados do Engenho de Santana, localizado em Ilhéus (sul da Bahia) fez uma insurreição.
Ali, não era o sistema escravista que estava em questão. O que aqueles homens e mulheres queriam, eram melhorias nas suas condições de vida. E para não deixar dúvida quanto suas exigências, eles redigiram um tratado (na minha opinião, um dos mais importantes da nossa história), no qual ressignificavam a moralidade da escravidão.
Novamente, é preciso pontuar que aqueles escravizados "não queriam guerra”, na medida em que não estavam questionando abertamente o sistema escravista. No entanto, quando o tratado foi encaminhado para o proprietário, os escravizados insurretos já haviam matado um dos capatazes, deixando bem claro que eles não estavam para brincadeira.
Aqueles homens e mulheres registraram a ousadia de propor uma nova escala moral do trabalho escravo, na qual eles teriam direito a mais dias de folga, para trabalharem em suas roças próprias (principal fonte de alimento fresco desses escravizados), além de quererem a garantia do "costume” de poderem festejam em dias específicos do ano. Eram escravizados dizendo como achavam que a escravidão deveria ser. Uma ousadia e tanto, naquele e em qualquer outro tempo.
Em um dos seus belos livros, o historiador João José Reis examinou a greve geral que acometeu a cidade de Salvador no ano de 1857. Durante um dia inteiro, trabalhadores negros (escravizados livres e libertos) que atuavam como carregadores de cadeiras se recusaram a trabalhar, deixando boa parte da elite soteropolitana na mão, ou melhor, a pé. A história é muito mais complexa (como sempre é), e vale a leitura da complexa análise de João Reis.
Mas o que interessa pontuar aqui é, uma vez mais a ousadia em projetar outras possibilidades de mundo, e de relações de trabalho, a partir da experiência e da consciência negra.
Essa experiência e consciência negra esteve presente e fortemente atuante nas lutas abolicionistas e nas inúmeras formas de organização e associação que a população negra criou quando a Abolição foi assinada (1888) e, logo depois, quando o Brasil se transformou numa República (1889) que se desejava branca.
Nomes como, Chico da Matilde, João Cândido, Laudelina de Campos Melo se juntaram aos milhares de trabalhadores negros que, desse lugar de trabalhadores negros, disputaram outras formas de organizar e de se relacionar com o trabalho. Uma disputa que nem sempre saiu vitoriosa, ou então que precisou esperar muito tempo para colher seus louros. Mas uma disputa que beneficiava a todos, não só a população negra.
A luta por melhores condições continua
Tudo isso para dizer que a recente proposta da deputada federal Erika Hilton (uma mulher negra) está calcada numa longa história da luta dos trabalhadores brasileiros, e da própria evolução da consciência negra no Brasil.
A PEC proposta pela deputada prevê a redução da escala de trabalho 6X1, limitando o horário de trabalho para 36 horas semanais.
O que está em jogo é a ampliação dos direitos trabalhistas (o que não é pouco), mas também uma nova forma de se relacionar com o trabalho. A redução legal da escala de trabalho provavelmente garantirá mais tempo de descanso e lazer, diminuindo assim o estresse, a ansiedade e a epidemia de burnout e outras doenças de saúde mental que vem acometendo a população brasileira.
Junto a isso, a necessidade em manter o produtivismo do mundo capitalista (algo que também deve ser revisitado), obrigará a contratação de novos trabalhadores, diminuindo assim a taxa de desemprego no país.
Podemos trabalhar menos e trabalhar melhor. Todos saem ganhando: trabalhadores mais saudáveis, SUS menos assoberbado, desempregados, que poderão ter mais chances de se recolocar no mercado de trabalho. Até mesmo a classe patronal tem a ganhar com essa medida, afinal ela deveria ser a primeira a querer o bem-estar e a saúde de seus funcionários.
Há outras formas de trabalhar e ser trabalhador no Brasil. E há séculos, a população negra vem demonstrando isso. Que possamos aprender mais com a consciência negra.”
Ter insônia é ficar atravessando fusos horários para pousar em BOs já desbotados de uso, mas infinitos, em terrores chumbados pra sempre no lobo temporal, nuns vazios paralisados, sem possibilidade de preenchimento.
Máscaras não caem automaticamente e acabou o café.
Quando a gente vê Viktor Orbán tocando o terror na Hungria fica com a impressão de que a coisa ali é zicada há tempos. Mas não dá pra esquecer que o país sempre foi todo cheio dos vanguardismos políticos – húngaros e húngaras não engoliram Stalin assim, de graça, e o país foi dos principais pontos de partida para o fim da Cortina da Ferro e a derrubada do Muro.
Mas coisa importantíssima que a gente esquece mesmo é que no século passado, moçada húngara fincou uma bota de salto na disco music. Sério. Um grupo chamado Neoton Familia fez um sucesso além-fronteiras no fim da década de 70. Seu maior hit era Santa Maria (1979) – sobre uma das caravelas de Colombo! –, foi traduzido para o inglês, assim como o nome do grupo: Newton Family. No Brasil, a música foi tema de novela das oito.
O que falar sobre esse grupo? É melhor ver:
Dá pra dizer que... bom, que o importante é ter saúde, né? Vai saber
dos efeitos colaterais de se viver pra lá da Cortina de Ferro,
Politburo roots. De mais a mais, devem ter todos doutorado em física,
literatura comparada, grego ou neurocirurgia. Se bobear, até músico da
Orquestra Sinfônica de Budapeste estava ali. E além do visual trabalhado no cetim, nas cuissardes e na lantejoula, o que são aquelas pessoas dançando loucamente ali atrás? Na boa, palavras me
faltam, mas... chupa, Abba!
Para quem domina melhor o húngaro que o inglês, o original aqui.
Viszontlátásra!
A arte de denunciar a injustiça social, os horrores da guerra e o imperialismo; dedo permanentemente rígido apontando alheias alienações e decisões erradas, de acordo com a régua pessoal de virtudes – enquanto mora na Europa, percorre capitais e exposições, mastiga menus internacionais e aproveita o inverno para esticadas em mares do sul.
Coisa que me dá gastura existencial é o barroquismo, a pretensão às ‘belas letras’ e à erudição com trejeitos mal trabalhados no moderninho – ou ainda, servida com traques ridículos. Reclamando atenção, fingindo ares blasés ou ameaçando socar a cara-da-sociedade.
A fila por um biscoito.
homeopatias supositórias
astrologias vermífugas
iogas gongóricas
budismos desenxabidos
corridas com lobos – bobos