quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Como fazer texto tendencioso passar por reportagem

Numa chamada, delineie a ideia de parasitas sociais se multiplicando, em oposição a progresso e bem-estar de gente que trabalha. Lembre-se, não escreva a chamada nestes termos, apenas sugira a imagem que já está impregnada no cérebro do leitor mal-informado (muitas vezes, por opção). Lance mão de verbos como encarecer e atrasar – são infalíveis para direcionar ainda mais a leitura e povoar vácuos mentais com desinformação de primeira. Não é necessário mais nada; para o mau entendedor, as entrelinhas gritam que ele gastando dinheiro para sustentar vagabundo. Perfeito. 

Na sequência, mencione fatos históricos capazes de despertar presepadas bairristas. Se o tema envolver terras, por exemplo, crie títulos que façam alusão a conflitos históricos “ganhos”. Utilize versões oficiais, daquelas capazes de agradar de autoridades a separatistas. E, claro, faça pairar a ameaça de invasores, da “gente que não é da terra” roubando terreno – literal e simbolicamente falando. 

Não esqueça de dar a entender que “esquerdistas” e ONGs apoiam e sustentam tais movimentos. Nunca deixe de citar que ONGs, movimentos sociais e a esquerda desviam dinheiro. Generalize de tal forma que vire a regra. Assim, a cada vez que se ler movimento social, por exemplo, se estará entendendo ladrões e criminosos

Utilize a imagem da fábrica, sempre que puder, pois nesses casos remete a dois sentidos negativos e complementares: o de invenção (mentira) e o de produção em série, de multiplicação (de coisas ruins).


Indique pareceres de órgãos governamentais para corroborar sua teoria. 


Mesmo que se trate de órgãos há anos envolvidos em diferentes denúncias sobre malversação. Aparentemente, isso leva à contradição, afinal, de que forma citar como séria uma fundação investigada pela própria PF por venda de licenças ambientais e mesmo assim utilizar seus pareceres a respeito de ocupação de terras? Ora, não se preocupe. Leitor reaça/mal-informado não precisa de qualidade nem veracidade de dados para formar opinião sobre qualquer que seja o assunto. E o que poderia ser motivo de desabono, passa batido. Tomemos outro exemplo: a supra citada fundação e denúncias sobre recebimento de “agrados” para liberação de licenças ambientais


Leitor mediano sem muita coisa no porta-ideias não se importa com esse tipo de denúncia. Mais que isso, acredita piamente que seja inveja do povo que não pode bancar um BMW ou que não pode comprar no xóps construído em área de preservação. Resumindo, dá nada, e se dá, é pouquinho

Vinhetinhas espertinhas também servem como boa isca para quem é revoltadão-de-bem e já comprou e assinou embaixo um julgamento disfarçado de reportagem. Não esqueça: movimentos sociais, manipulação, aumento, força são termos que funcionam pra tudo, mesmo que utilizados sem muito sentido.

E, muito importante. Utilize pretensas biografias como se fossem acusações de crimes. A chave de leitura já está dada, então, quaisquer ainda e apenas parecerão apontar atos que merecem punição. De preferência, capital. E se conseguir alguma ligação com o governo federal, aí, é garantia de punhos agitados no ar, salivação intensa e desejo de linchamentos.
Por fim, arrume um design bonitinho para a página do seu texto, que dê uma sensação de dossiê, de pesquisa braba e de imparcialidade. É isso! 

O resultado, aqui. Parabéns.