domingo, 28 de setembro de 2014

Eleições “frias” e análises insossas


A matéria expõe as análises dos coordenadores de campanhas de alguns candidatos. Um dos pontos ressaltados foi a existência das grandes coligações – grandes somente no espectro de partidos que inclui, bem entendido, e nos espaços que abocacham com isso. Partidos menores, mas com militância relevante, ficam de escanteio, pois eventos como simples bandeiraços na rua foram proibidos pela justiça eleitoral. O coordenador da campanha do PSOL conclui que se privilegia a TV para exposição de ideias. Já o coordenador da campanha do atual governador, que será reeleito no primeiro turno, manda dizer que só “critica” quem não conseguiu construir coligações – porque no sul maravilha, ter análises diversas das oficiais é sinônimo de “criticar”; e criticar é praticamente militar na Al Qaeda. Além do que, dá a impressão de que coligação é o objetivo final de uma campanha (programa político é coisa de guerrilheiro-assaltante-de-banco-simpatizante-de-cuba).  

A análise de cientista político aponta, em linhas gerais:
O professor Jean Castro, cientista político da UFSC, aponta alguns dos possíveis motivos para a indiferença da população com relação às eleições, entre eles a consolidação da democracia representativa e profissionalização da política, além da caminhada rumo ao centro do espectro ideológico.
Admitamos, professor. Admitamos que tais fatores também apareçam no cenário. Mas quando vemos que a TV é o espaço privilegiado da política (não escolhido pelos eleitores, mas determinado pela legislação e arranjos eleitorais), isso me faz lembrar a Lei Falcão (1976), aquele desfile medonho de fotos de candidatos, com uma retreta berrando ao fundo e a leitura off de dados pessoais. 



As linhas gerais da propaganda eleitoral continuam essas, só que hoje, entremeadas por textos de marqueteiros competindo para ver quem vincula mais “neutralidade”, mais “publicidade de margarina”. Se entre o fim dos anos 80 e início dos 90 ainda rolava certo orgulho de carreiras políticas feitas na oposição à ditadura, no século XXI, o horário político é espaço privilegiado para se mostrar contra nada, a favor de tudo e mais um pouco, desde que não sugira qualquer grão de poeira progressista. Desde que não se ultrapassem espaços restritos, ideias específicas, manifestações conhecidas.

Além disso, voltando à análise do professor-cientista-político, também não vi referência a um fato de deixar de cabelo em pé: um século das mesmas famílias à frente da política nestas paragens. E não é figura de linguagem. No início do ano, revisei uma dissertação sobre a história política local, com uma sensação de atualidade absoluta. Entre outros temas, a dissertação falava dos primeiros anos republicanos em terras catarinenses e do movimento de 1930. Sequer os sobrenomes dos líderes capos mudaram em 100 anos!

Quédizê, tudo o que se forjou na primeira metade do século XX acabou por cimentar as vias políticas locais. E, desconfio, cimentou pra sempre as escolhas de parte da população. Por enquanto, de boa parte dela. E ainda tem quem se admire pela “frieza”? Não é mero reflexo de cansaços. É bem construída a cada aliança da vez, a cada impedimento de manifestações. Talvez a reflexão do cientista político seguisse adiante, mas o que se publica é análise-placebo, ligeira, generalista, sem pôr o dedo nas especificidades complicadas.