terça-feira, 9 de setembro de 2014

Retratos da covardia nacional



De generais a cabos, passando por tenentes, delegados, dedos-duros e outros servidores serviçais do regime, a tendência não muda: o que orienta o desfile é a covardia – nos tais “bons tempos”, isso era política de Estado. Mais covarde fosse, mais chances de cavar o seu lugar, subir na hierarquia, conseguir “bocas” para amigos, família e o escambau. Agir em bando dava fumos de coragem a comandantes de subsolo – ganha-pão de descerebrados cujas capacidades foram espancar, violentar, matar, destruir. Pau-de-arara como ferramenta de trabalho, impunidade e anonimato como diretrizes sindicais.

Agora, a covardia ganha tons de bravata. Não falam, não querem vir a público. E aí se constata que coragem é uma questão de lugar também. Por exemplo (um entre milhares): avançar em 5 ou 6 sobre corajosas mulheres muito jovens, mas já fracas e quebradas moralmente, uma por vez, submetê-las a uma panóplia de sevícias saída da podridão humana, aparecia como o ápice da valentia, não é mesmo? 

Aliás, ainda aparece, pois para cada covarde criminoso desses há uma claque de bundinhas-no-sofá, leitinho-com-bolacha, a soltar gritinhos, numa vibe fã em histeria. A baixa capacidade para interpretação de textos e as referências precárias de tudo só deixam alcançar textos de Reinaldo Azevedo – por conta desses leitores é que ele utiliza aquelas fontes em cores gritantes, variadas, beirando o infantilismo malcriado (não posso crer que ele lance mão do recurso por gosto). Ou o grotesco Constantino, matraqueando que era Miriam Leitão quem devia um pedido de desculpas por ter sido torturada – ela acabara de falar publicamente sobre sua prisão em 1972, aos 19 anos. 

Atenção, pais, mães e responsáveis: a sua educação relapsa pode criar bostinhas como este sujeito, supra sumo da desinteligência arrogante que tem se espalhado pelas faculs da vida. Tipo de criatura tão sem referências que – outro exemplo – ignora que o Tea Party seja organizado e constituído por rednecks de raiz, caipiras com adesivos de jesus-olhos-azuis em seus carrões e aneis de virgindade. Imaginam algo cosmopolita e bem talhado. Bom, o desconhecimento pode ser culpa da baixíssima proficiência dos bundinhas-no-sofá em idioma estrangeiro, né? Mas como repete meu sobrinho, não vou nem zuar, vai que é doença?

E há ainda a turma do discurso dedo-em-riste, toda trabalhada na educação-moral-e-cívica – mas que se dobra a qualquer falcatrua que permita arrumar emprego para filho vadio ou filha incompetente, de preferência em órgão público. Depois, passa os dias no clamor sem fim contra os corruptos do país. Com a universalização da Internet, esses seres obscenos de uma dimensão precária exultam com Estado de exceção, exigem a volta do Urutu nas ruas, da palmatória e do Esquadrão Le Cocq. Aos domingos, vão à igreja, para que deus constate sua humildade, tolerância e amor ao próximo.

Será a tacanhice desses tipos tão absoluta, a ponto de não perceberem que se tudo o que eles mais desejam vier a se concretizar, serão eles os primeiros a terem que calar a boca? Ou realmente acham que fardão é tudo chapa, e que vai rolar cafezinho no quartel, amigo secreto e curtida no Face? Quem vai contar pra eles, moçada?