sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Corrupção passiva, ativa e sado-masoquista

Operações da Polícia Federal, grandiloquência da imprensa, utilização dos fatos para revanchismo político de quinta, ares de surpresa frente tamanha lama, “nunca antes vista no país” e blablablá. 

E aí, várias coisas: crer que esquemas de corrupção facilitando elos entre público e privado não existiam no país antes que o PT governasse é de uma má fé sem noção; ou talvez, seja analfabetismo funcional, daquele que não permite ler textos nem contextos mais complexos, fazer reflexões ou acessar referenciais na memória (pois inexistem). 

Além disso, como assim, surpresa? Faz algum tempo já que “globalização” significa modernidade tecnológica e possibilidades múltiplas aos “mais bem preparados e capazes” apenas em curso de emebiêi de facul de última. Ou workshops e palestras motivacionais com ex-presidentes, ex-diretores de banco, atletas que não se elegeram por algum partido da “democracia cristã” e afins. Porque na real, o sistema que aí está já criou tentáculos há pelo menos 2 séculos, se adapta, se aproveita do que cada cultura política regional pode ter de pior e se instala nas instituições públicas. Em todo o mundo.

As relações entre donos dos meios de produção e poder político são mediadas por uma hierarquia de lobistas, marqueteiros, advogados, entre outros vários profissionais que poderiam ser chamados genericamente de atravessadores. E há quem jure que isso é sinal de desenvolvimento, de primeiro-mundismo, de sofisticação empresarial. 

Vez por outra, há agitações nessa rota de atravessadores, algumas cabeças rolam, reaças encontram a justificativa para pedir o fim da democracia e aproveitadores de toda a espécie encontram espaços vagos para instalar suas ventosas. Tudo vai se acomodando após pequenos sismos, a novidade se torna rotina, a imprensa (em grande parte ligada a estes mesmíssimos grupos) aproveita a chance para um proselitismo em favor de seus mecenas, os marqueteiros “focam” e tentam reverter a tendência via consumo. 

A bolsa se equilibra, comentaristas desfiam termos financeiros ridículos e a cidadania se resume a encontrar as melhores ofertas ou a ostentar a ilusão da exclusividade. A medida da inteligência é o lucro conseguido. O ensino corrobora a prática, vendendo a progenitores uma formação de elite vencedora a seus rebentos. 

E minha pergunta continua a mesma: cadê a surpresa? Como esperar algo diferente de um sistema cuja natureza é a corrupção? E não é um problema da democracia; é um problema de democracias parciais, incompletas. Não é demais – escasseia em várias situações. Mas aí, insiste-se que organismos como conselhos participativos, por exemplo, são um passo para a fidelcastrização do mundo. Ou ainda, que são inviáveis, ideias de quem não têm “disciplina partidária”. 

Novidade? 

Amo um filme, que explica melhor os rumos do mundo que a maioria dos “abalizados” por aí, entrincheirados que estão nos seus próprios Lattes, farejando boas pontuações. O filme genial chama-se Rede de intrigas (Network, 1976), dirigido por Sidney Lumet, com roteiro de Paddy Chayefsky. Entre as muitas cenas fantásticas, esta:


Tá?!