terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Canetinhas Sylvapen orientando a infância desgovernada

E depois do Bauzinho da Primícia, material escolar obrigatório no século XX era o jogo de canetinhas Sylvapen. Acredito que tenha chegado ao Brasil no começo dos anos 70, com uma publicidade voltada a crianças, família, toda cheia de pedagogia e exemplos educativos...

|1971|

Em estojinhos com seis ou doze canetinhas, qualquer deles cabe no bolso da camisa, porque é do tamanho de um maço de cigarros. Avise seu pai que você também vai mudar para os 100 milímetros (...). É o tipo de vício que vai encher a família de orgulho. E pra não deixar dúvidas, estampava-se o moleque fumando uma das canetinhas, né? A mais mordida na América Latina. Oi?!

Havia uma versão mais longa da publicidade, frisando os aspectos criativos que crianças com Sylvapen em punho poderiam desenvolver:


Dê a seu filho um estojo de Sylvapen 100 milímetros. Talvez um dia, ele corte a orelha. Talvez ele largue tudo e fuja para o Taiti. Ninguém dá Sylvapen a uma criança sem correr um grande risco.
Sensacional!

As tais canetinhas dominaram o ambiente escolar nos anos 70 e 80. Ganhei meu primeiro joguinho em 1977, e como sempre, em dois tempos, elas secavam – eu enchia folhas e folhas de cadernos escolares com desenhos, assim como espaços em branco de livros didáticos ou qualquer outra superfície que os comportasse. A tal da canetinha não durava dois quilômetros, como anunciava a publicidade, mas não era nada que não se desse jeito: uma seringa com álcool fazia as vezes de “recarga”, quer dizer, grandes manchas coloridas garantidas, borrões que se espalhavam assim que você encostasse a ponta da caneta recarregada com álcool 90º no papel. E as manchas passavam de uma folha a outra, provocando um mês de lições borrocadas (e um blablablá sem fim na sua orelha, claro).

No começo dos anos 80, não tenho certeza da data, apareceu o sonho de consumo em forma de canetinha Sylvapen: um estojo que parecia uma embalagem de Marlboro. Do tipo flip-top, imitava uma carteira de cigarro com perfeição. Também tive dessas.



Quédizê, coisas de um tempo todo trabalhado na inocência, na brincadeira criativa e saudável, que não se vê mais hoje em dia, néammmm? Eu cresci desenhando com Sylvapen e meu sonho profissional era ser desenhista, o que quer que isso fosse. Faz décadas que não desenho, mas em compensação, até uns anos atrás, fumava quase duas carteiras por dia – sabem como é, ninguém dá Sylvapen a uma criança sem correr um grande risco...

Coisas que formam um caráter desgovernado.