segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A tal da “magia da circo”

E se foi o Orlando Orfei, do Grande Circo Orlando Orfei, ou qualquer outro nome que os “gran circos internacionais” adotavam ao armar suas lonas nessas paragens. Entre o fim dos anos 1970 e o início dos 80 fui a vários deles – não por vontade própria, mas por que meus pais (meu pai, principalmente) acreditavam que aquilo sim era diversão para crianças (praticamente a Disneylândia, dentro das possibilidades geográficas e do bolso). 

Observo de longe, com certa inveja, quando leio descrições de adultos emocionados com suas experiências infantis em circos. Pra mim, fosse no Orlando Orfei, no Circo di Roma, no Circo de Moscou, no Garcia, no Thiany ou qualquer outro, a coisa não rolava. Nunca gostei dos palhaços, nem daquelas arquibancadas (tinha medo de cair), nem dos números de trapezistas (tenso!), muito menos daquele maldito “globo da morte”; também não gostava daquela música ao vivo. Achava as bailarinas/equilibristas/ajudantes bonitas em suas roupas de paetês e tules (last days of disco), mas me causavam profundo constrangimento os olhares dos pais acompanhando aquela “magia” toda... Aliás, por que toda a vez em que se fala de circo, aquela ladainha da magia é obrigatória? 

Me lembro do próprio Orlando Orfei dentro da jaula dos leões: colete, chicote estalando e depois abraços felinos. Veiz em quando, um urro (leão urra?) – pra mim, uma coisa meio Metro-Goldwyn-Mayer. Vi uma entrevista dele na TV, no século passado, falando que os ursos seriam os animais “mais traiçoeiros” para um domador por não darem sinais aparentes de um possível ataque, ao contrário dos felinos. Sim, eram outros tempos – na escola, a gente aprendia que a fauna se dividia entre “animais úteis” e “animais nocivos”, oras! Eu morria de pena dos elefantes e dos cachorrinhos de vestido, andando em duas patas.

Também havia umas tais de “águas dançantes”, que eram jatos d’água que aumentavam ou diminuíam conforme notas musicais (executadas por Orfei) e luzes coloridas. Seja como for, a tal da magia do picadeiro e afins não funcionava. Felizmente, não fui a única a pensar assim. Minha amiga Val conta que, uma vez levada ao circo, exigia sentar perto da saída, pois a primeira coisa que lhe passava pela cabeça naquele lugar era um incêndio; e não daria tempo, pensava ela, de todos saírem a tempo...



Orlando Orfei, em programa da TV italiana dirigido por Vittorio Gassman (1959)