Hoje, vários comentários e textos sobre a última capa do francês Charlie Hebdo. O mau gosto, a falta de respeito e, sobretudo, “retiro o meu Je suis Charlie”...
Só que Charlie Hebdo é isso, desde sua origem. Mesmo antes, quando seus criadores mantinham a revista Hara-Kiri. Parte de sua produção é podrona, grosseira. Sempre foi assim, há mais de 50 anos.
Não rola humor “inteligente, sutil e bem engajado”; apesar da crítica política, o que sobra é merda no ventilador, e salve-se quem quiser. Piadas sobre muçulmanos, campos de concentração, estupro, pobreza, entre outras, tudo sempre esteve ali – ao lado de denúncias contra ditaduras latino-americanas, por exemplo (umas de suas capas setentonas faz referência ao Chile, com um par de testículos torcido por um alicate).
Seus autores e desenhistas se definiam e definem como provocadores. São iconoclastas de verdade, até contra o que achamos válido. Temos que gostar disso? Não. Folheei poucos números da revista, tem muita coisa que acho ofensiva, por vezes, baixa. Então, não leio. Ninguém me obriga a fazê-lo. E esse meu desagrado não me impediu de ficar passada e plissada com o atentado de um ano atrás. E ainda me dá tristeza quando topo com uma entrevista antiga do Cabu ou do Wolinski.
Injustificável o que houve na redação do Charlie. Foi crime. Não importa se foi contra provocadores, contra quem desconhecia o “limite do aceitável”, contra quem “exagerava na dose” ou “não tinha o menor respeito”. Foi crime. Mesmo que eu deteste as caricaturas; mesmo que eu ache podre o machismo, a piada que humilha. Foi crime mesmo assim.
Quanto aos remanescentes da revista, continuam no mesmo caminho, radicalizando. Gosto? Não. Mas é assim que é a publicação. Desde o início. Moçada tem o direito de detestar e dizer por quê. Só que aí, a coisa resvala para as “análises abalizadas”, aquelas bem básicas e imediatas, que se colocam do “lado correto”, denunciando quem ali não está – e que tinha obrigação de, afinal, recebeu tanto apoio do mundo todo, inclusive o meu, né? Hora de sacar da manga a indignação.
Sério: a capa da revista é podre? Diga que é, critique. Mas não busque na publicação algo que ela nunca se propôs fazer. Charlie Hebdo nunca teve o apanágio da ironia refinada, não é de hoje, e é preciso situar essas edições, entender sua origem, suas ideias (não necessariamente concordar).
Agora, se você defendeu o direito à expressão destes humoristas e se dá conta de que não é o seu tipo de humor, problema seu. Conheça a história deles, antes de tudo, e não queira que uma produção existente desde 1960 se encaixe nas suas próprias escolhas, na sua militância, na sua ideia do que deva ou não ser humor.
Só que Charlie Hebdo é isso, desde sua origem. Mesmo antes, quando seus criadores mantinham a revista Hara-Kiri. Parte de sua produção é podrona, grosseira. Sempre foi assim, há mais de 50 anos.
Não rola humor “inteligente, sutil e bem engajado”; apesar da crítica política, o que sobra é merda no ventilador, e salve-se quem quiser. Piadas sobre muçulmanos, campos de concentração, estupro, pobreza, entre outras, tudo sempre esteve ali – ao lado de denúncias contra ditaduras latino-americanas, por exemplo (umas de suas capas setentonas faz referência ao Chile, com um par de testículos torcido por um alicate).
Seus autores e desenhistas se definiam e definem como provocadores. São iconoclastas de verdade, até contra o que achamos válido. Temos que gostar disso? Não. Folheei poucos números da revista, tem muita coisa que acho ofensiva, por vezes, baixa. Então, não leio. Ninguém me obriga a fazê-lo. E esse meu desagrado não me impediu de ficar passada e plissada com o atentado de um ano atrás. E ainda me dá tristeza quando topo com uma entrevista antiga do Cabu ou do Wolinski.
Injustificável o que houve na redação do Charlie. Foi crime. Não importa se foi contra provocadores, contra quem desconhecia o “limite do aceitável”, contra quem “exagerava na dose” ou “não tinha o menor respeito”. Foi crime. Mesmo que eu deteste as caricaturas; mesmo que eu ache podre o machismo, a piada que humilha. Foi crime mesmo assim.
Quanto aos remanescentes da revista, continuam no mesmo caminho, radicalizando. Gosto? Não. Mas é assim que é a publicação. Desde o início. Moçada tem o direito de detestar e dizer por quê. Só que aí, a coisa resvala para as “análises abalizadas”, aquelas bem básicas e imediatas, que se colocam do “lado correto”, denunciando quem ali não está – e que tinha obrigação de, afinal, recebeu tanto apoio do mundo todo, inclusive o meu, né? Hora de sacar da manga a indignação.
Sério: a capa da revista é podre? Diga que é, critique. Mas não busque na publicação algo que ela nunca se propôs fazer. Charlie Hebdo nunca teve o apanágio da ironia refinada, não é de hoje, e é preciso situar essas edições, entender sua origem, suas ideias (não necessariamente concordar).
Agora, se você defendeu o direito à expressão destes humoristas e se dá conta de que não é o seu tipo de humor, problema seu. Conheça a história deles, antes de tudo, e não queira que uma produção existente desde 1960 se encaixe nas suas próprias escolhas, na sua militância, na sua ideia do que deva ou não ser humor.