terça-feira, 22 de maio de 2018

O fêici em maio de 1964

Campeando pelas quebradas virtuais, topei com um jornal que existiu na minha terra, chamado Correio do Paraná. O exemplar em questão, que circulou em Curitiba no dia 9 de maio de 1964, custava 20 cruzeiros (“na capital”).




Na primeira página, um editorialzinho reforçava a importância de “caminhos livres à democracia e à ordem cristã”, pedindo uma colaboração do leitor para salvaguardar a democracia e anular “a ação nefasta dos comunistas”. Porque era só o que faltava, né? Comunistas prejudicando nosso Brasil varonil, de céu azul-anil. Parece que não respeitavam nada, esses lacaios de Moscou... Humpf!


Pra não deixar dúvidas, outro editorialzinho, mais para o meio da publicação, lembrava que caiu o “govêrno insensato e desleal que levava o Brasil para os caminhos da anarquia”. Não bastava serem comunistas, queriam anarquizar a quizumba ainda por cima. Se bobear, até a compota de figo seria banida!

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O senador João Calmon visitava Curitiba no período. E o Correio do Paraná estampou na capa a frase do governista, explicando que a revolução fora feita o golpe fora dado pensando-se nos trabalhadores. Aaaaah, bons tempos em que as “classes privilegiadas” chupavam o dedo, né?


🙈🙉🙊

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria passava por uma “limpeza”, pois, vocês não vão acreditar, mas tinha comunista lá saindo pelo ladrão! Até dinheiro pra Moscou parece que já tavam mandando! 


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O Correio do Paraná também noticiou que o jornalista Samuel Wainer, dono do jornal carioca A Última Hora, deixava o país rumo ao Chile. Também, né? Nascido na Bessarábia, vocês queria o quê? 

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E a “limpeza” continuava, pois onde menos se esperava, lá estavam os vermelhos. Até no Banco do Brasil!!!

💰👀
 
Na coluna Resenha Política, ficamos sabendo que dava pra doar ouro pra recuperar a economia do país. Você doava sua aliança, por exemplo, e ganhava um anel de metal com a inscrição Dei ouro para o bem do Brasil. Sério. Tava achando que era só uma # do Trator, né? Nã-nã. Moçada fez fila pra doar ouro aos milicos. Se autodenominavam “Legionários da Democracia”, marchavam com deus, a família e as toalhinhas de crochê em cima do rádio.

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Mas como nem só de notícias vivia um periódico impresso, os classificados davam conta das casas e terrenos à venda. Um Simca 1962 tava valendo na negociação.
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E falando de carros estrangeiros, circulavam pelas ruas da capital paranaense (e das cidades brasileiras em geral) uma pá de marcas das décadas anteriores, de Citroën a Oldsmobile, passando por Skoda e Jaguar. Depois da “Gloriosa”, acabou essa festa.

Carro usado era (é) comércio garantido. E a publicidade usava frases de efeito pra reforçar a ideia.
 Tudo bem que hoje se anuncia “queima de estoque”, mas “grande queima de carros” me faz pensar em piromaníacos, não adianta...
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 Tirando carros, o hábito de comprar usados podia causar vergonha, pois denunciava a pindaíba. Se hoje comprar em brechó é tendance, nos anos 60, os comerciantes garantiam “discrição absoluta” aos seus clientes. Como esses, na Rua Riachuelo (na ativa ainda hoje).
 😎

Reclamações quanto a buracos nas ruas, falta de calçamento, ônibus e afins eram publicadas na coluna Curitiba Grita e depois comentadas no rádio.

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Falando em comunicação de massa, o Cine Ópera exibia O mundo dos vampiros, filme mexicano de 4 anos antes. Não importa, era tão “forte”, que não se recomendava a pessoas “sensíveis e nervosas”. Já no domingo, tinha o Festival Tom e Jerry – “sòmente desenhos do Rato e do Gato”, avisavam (certeza que tinha bocaberta perguntando sobre a Branca de Neve...).
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 E, claro, o horóscopo alertava o vivente sobre seu porvir (tratando objetos e a bicharada pelos nomes: caranguejo, carneiro, balança...). Dá pra usar o mesmo ainda hoje, vai aí, moçada!
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👉Por fim, só lembrando que “antes não era melhor”.