terça-feira, 2 de março de 2021

Musiquinha com assobios fofos (e insuportáveis)

Já é bem ruim ver telejornal desfiando estatística ou medidas de capacidade: 70% dos 0,5% leitos disponíveis em UTIs de 99,8% dos hospitais do país... 65,4% das vacinas que chegaram no lote ZYB-369 e que somam 0,2% do total necessário para o município... A quantidade de rosquinhas Mabel apreendidas poderiam encher três estádios do Mineirão... A quantidade de cocaína prensada equivale a 3 rios Barigui e dois Fuscas 71... A curva de desaceleração da imutabilidade fiscal ultrapassou os 200% do acumulado para o período que era de 9% até maio do ano passado (percentual com dois pontos para mais ou mais ainda, de acordo com a passagem de El Niño pelo Mar das Caraíbas, na latitude 56º).

Mas pior, piooooooooor, é aquele intervalo publicitário atolado em musiquinhas positividade-de-bem-com-a-vida assobiadas. Geral com espasmos zigomáticos e olhos de personagem de mangá, interiores fofos e melodia assobiada. Parece maldição tirada de banco de imagens genéricas e que servem para anunciar qualquer coisa. Assobiando. Sério. Não. Não consigo.

Eu venho de uma tradição TV Iguaçu, canal 4; fim dos anos 1970, início dos 80, noites geladas em Curitiba, prova de matemática no dia seguinte e filmes véios clássicos de 20, 30 anos antes, dublados e cortados pela publicidade.

Era bom? Não era. Mas introjeta uma música de assobio na memória do vivente para todo o sempre. Se aprendia de uma vez por todas que situações permitiam musiquinha assobiada.

A ponte do rio Kwai (1957) – resenha rápida: moçada tinha que construir uma ponte, terreno e ambiente de trabalho péssimos. Mas assobiando a coisa rolou. 

 O dolar furado (1965). Sujeito é salvo de bala no coração por um dólar que trazia no bolso e que fica furado. Eu, aos 7 anos, ouvindo a explicação: “então a nota estava dobrada?” (perspicácia nunca foi meu forte).


A morte tem cara de anjo (1968) – Tarantino usou em Kill Bill, mas vem daqui, gore britânico. E a culpa é da mãe, que não soube educar filho problemático.

Não sendo este tipo de situação, não tem peloquê botar assobio em publicidade de agiotagem, comida lowcarb ou xampu sem sal, né?  

 

P.S.: ia esquecendo. Também tinha essa aí embaixo, geração “90 milhões em ação”, Trator aí incluída. Trilha sonora de porão, tema do pachequismo nacional (taí a merda que deu).