terça-feira, 6 de agosto de 2024

O groove húngaro

Quando a gente vê Viktor Orbán tocando o terror na Hungria fica com a impressão de que a coisa ali é zicada há tempos. Mas não dá pra esquecer que o país sempre foi todo cheio dos vanguardismos políticos – húngaros e húngaras não engoliram Stalin assim, de graça, e o país foi dos principais pontos de partida para o fim da Cortina da Ferro e a derrubada do Muro.

Mas coisa importantíssima que a gente esquece mesmo é que no século passado, moçada húngara fincou uma bota de salto na disco music. Sério. Um grupo chamado Neoton Familia fez um sucesso além-fronteiras no fim da década de 70. Seu maior hit era Santa Maria (1979) – sobre uma das caravelas de Colombo! –, foi traduzido para o inglês, assim como o nome do grupo: Newton Family. No Brasil, a música foi tema de novela das oito.

O que falar sobre esse grupo? É melhor ver:

 

Dá pra dizer que... bom, que o importante é ter saúde, né? Vai saber dos efeitos colaterais de se viver pra lá da Cortina de Ferro, Politburo roots. De mais a mais, devem ter todos doutorado em física, literatura comparada, grego ou neurocirurgia. Se bobear, até músico da Orquestra Sinfônica de Budapeste estava ali. E além do visual trabalhado no cetim, nas cuissardes e na lantejoula, o que são aquelas pessoas dançando loucamente ali atrás? Na boa, palavras me faltam, mas... chupa, Abba!

Para quem domina melhor o húngaro que o inglês, o original aqui.

Viszontlátásra! 

Do bom-mocismo patacudo

A arte de denunciar a injustiça social, os horrores da guerra e o imperialismo; dedo permanentemente rígido apontando alheias alienações e decisões erradas, de acordo com a régua pessoal de virtudes – enquanto mora na Europa, percorre capitais e exposições, mastiga menus internacionais e aproveita o inverno para esticadas em mares do sul.

A bico de pena

Coisa que me dá gastura existencial é o barroquismo, a pretensão às belas letras’ e à erudição com trejeitos mal trabalhados no moderninho – ou ainda, servida com traques ridículos. Reclamando atenção, fingindo ares blasés ou ameaçando socar a cara-da-sociedade.

A fila por um biscoito.

Do zen-cuzismo

homeopatias supositórias
astrologias vermífugas
iogas gongóricas
budismos desenxabidos
corridas com lobos – bobos

terça-feira, 11 de junho de 2024

Criança não é mãe! – contra o PL 1904/24



Tem coisas no século 21 que são sensacionais e me fazem lembrar daqueles sonhos infantis, nos quais eu integrava a tripulação da USS Enterprise e tinha um comunicador que fazia barulhinhos. Mas no mundo concreto deste século, grudando em qualquer avanço científico, social, econômico, cultural, o que for, está aquele maldito amálgama pegajoso entre corrupção política e temas considerados nessas plagas como “pautas morais”.

Assim, vagabundági que não consegue quitar boletos e carnês do baú, que não está a fim da ralação e afins, considera a carreira política como solução. E não vai aqui nenhum discurso a favor do sacrifício, da insônia produtiva e da meritocracia, nada disso. Apenas a constatação de que uma cambada medíocre – em todos os sentidos – tem ocupado postos legislativos com uma voracidade de praga do Egito. Parasitagem como profissão. De certa forma, nenhuma novidade, desde a Colônia negociam-se rins, a alma e árvores genealógicas, desde que excelentíssimos traseiros possam ser depositados em cadeiras legislativas.

Ao contrário do que diz animador de TV catarinense, não tivemos honestidade e seriedade guiando decisões para o país no início desta década. Tivemos sim a apologia do pior da nacionalidade, embalada em moralismo, patriotada, além da chinelagem intelectual tirada do armário para sempre – quanto mais rasteira, melhor. Muita gente distribuiu votos a encostados e encostadas, desejando a garantia de uma tal moral e uns bons costumes extremamente difusos, que vão da veneração a torturadores à obsessão por uma santidade mais fingida que Regina Duarte com muito medo ou muito Helena. Se tiver diploma de direito, então, é a glória.

Sendo assim, para garantir saldos de seis a sete dígitos, legisladores/as se lançam à elaboração de projetos de lei que conversem com a aridez intelectual de um/uma verdeamarelista em frente a pneu no meio da rua (no meio do caminho tinha um pneu). E como chorume pouco é bobági, bora criar PL pra garantir o apoio incondicional do meia-na-cueca, da indignada-papai-é-militar e de orgulhosos/as descendentes de algum europeu aleatório que desembarcou em costas latinas. Trabalho, família e pátria (frase que dá arrepio em qualquer vivente que conheça história) dão origem a projetos contra o aborto e o ensino laico, a favor de armamento, privatização e militarização de escolas, desmatamento em nome do desenvolvimento e da alegria nacional, entre vários outros.

Uma das últimas aberrações nacionais é o PL 1904/24, chamado da Gravidez Infantil: "Caso a lei seja aprovada, proibindo a realização de aborto legal acima de 22 semanas em caso de estupro, as principais afetadas serão as crianças, que são boa parte de quem busca os serviços de aborto com esse tempo de gravidez uma vez que em casos de abuso sexual, há mais demora em descobrir, ou mesmo identificar a gestação”. A justificativa é o crime contra a vida, ou um projeto de deus que escreve reto (e mal) por linhas tortas e demais patacoadas. O debate, ou melhor, o bate-boca se resume ao contra ou a favor, ao faria ou não faria, coisas que, de fato, não importam. O que eu acho não deve prevalecer, nem para quem eu rezo, sobre o que medito ou quem eu julgo: isso são questões de foro íntimo e não matéria-prima para políticas públicas!

Assim sendo, por favor, reforcem a pressão contra essa aberração que é o PL 1904/24: